América Latina aguarda investimentos chineses

© AFP 2023 / Andy WongO presidente chinês Xi Jingping e o presidente do Equador Rafael Correa apertam as mãos depois de assistir a ceremônia cantada no Grande Salão do Povo, Pequim, em 7 de janeiro, 2015
O presidente chinês Xi Jingping e o presidente do Equador Rafael Correa apertam as mãos depois de assistir a ceremônia cantada no Grande Salão do Povo, Pequim, em 7 de janeiro, 2015 - Sputnik Brasil
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China está disposta a dar uma reviravolta visível em sua política na América Latina.

Essa previsão foi dada à Sputnik China por especialistas russo e chinês antes da visita do presidente chinês, Xi Jinping, a esse continente. Entre 17 e 23 de novembro ele visita o Equador, Peru e Chile.

A China é o credor principal da América Latina, o maior parceiro comercial do Peru e do Chile, bem como o terceiro maior do Equador. Enquanto isso, nos últimos anos, devido à turbulência da economia mundial, as trocas comerciais da China com o continente caíram ligeiramente. Isso não pode deixar de pôr de sobreaviso o lado chinês, que estabeleceu metas ambiciosas nas suas relações com a América Latina. Em particular, aumentar em 10 anos o volume de comércio até 500 bilhões de dólares e investir 250 bilhões de dólares. Isto é, se não se tornar no principal jogador comercial e econômico na América Latina, terá de ser pelo menos o segundo.

Este objetivo é ambicioso, e Xi Jinping vai tentar promover a China para alcançá-lo, disse à Sputnik o chefe do Centro de Estudos Ibéricos do Instituto da América Latina, Peter Yakovlev:

"O primeiro objetivo é reforçar suas posições na América Latina. Os chineses querem jogar uma nova cartada — passar do fornecimento de produtos industriais de largo consumo para o fornecimento de equipamentos industriais para a criação de novas empresas. Além disso, estão previstos grandes investimentos em projetos de infraestrutura, que são o motor do crescimento econômico. O Equador, Peru e Chile são a fachada da América Latina no Pacífico. Na região da Ásia-Pacífico existe uma competição econômica aguda entre os EUA e a China. Nestas circunstâncias, a intenção do novo presidente, Donald Trump, de torpedear o acordo TTP, em geral, faz o jogo do lado chinês. E se Trump frustrar a ratificação deste acordo, os projetos chineses para criar mecanismos alternativos de integração na região da Ásia-Pacífico irão mostrar suas novas facetas. Já neste momento eles atraem uma atenção crescente, inclusive no Peru e em outros países da América Latina. Os representantes oficiais já afirmam estarem dispostos a participar nestes projetos, de fato, sob a liderança da China. Atrair os países do Pacífico na América Latina para os projetos que a China está desenvolvendo para toda a região da Ásia-Pacífico é outro dos objetivos da missão de Xi Jinping."

A visita atual do líder chinês à América Latina já é a terceira desde que ele tomou posse como presidente da RPC em março de 2013. Xi Jinping visitou Trinidad e Tobago, Costa Rica e México em 2013, assim como o Brasil, Argentina, Venezuela e Cuba em 2014.

O programa da turnê latino-americana, que começa na quinta-feira, inclui o Equador, que antes de Xi Jinping nunca foi visitado pelos principais líderes da China. Durante a visita o líder chinês, junto com o presidente do Equador, Rafael Correa, irá inaugurar a maior usina hidrelétrica do país, que fornecerá até 30 por cento da produção de eletricidade no país. É o maior projeto com um valor superior a 2 bilhões de dólares. Ele foi, de fato, financiado pela China e executado por uma empresa chinesa. Ao todo, a China ajudou a construir e reconstruir no Equador 8 usinas hidrelétricas e 10 estradas, tendo investindo no país mais de 10 bilhões de dólares sob forma de investimentos e empréstimos.

Presidente da China, Xi Jinping, durante um discurso na Coreia do Sul, em 2014 - Sputnik Brasil
China aposta alto em relações com a América Latina
A terceira visita de Xi Jinping à América Latina acontece após mudanças políticas importantes em vários países do continente. Isto foi salientado pelo especialista do Centro Latino-Americano da Academia de Ciências Sociais da China Xui Shicheng:

"Na América Latina, realmente, estão ocorrendo algumas mudanças. Por exemplo, em outubro do ano passado na Argentina, após as eleições, ao poder chegou o presidente Mauricio Macri como o candidato das forças de direita. No final de agosto deste ano à presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi declarado impeachment, chegou ao poder o presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, Michel Temer. Em dezembro do ano passado, a Venezuela realizou eleições parlamentares em que a união direita da oposição Mesa da Unidade Democrática ganhou dois terços dos votos. Nós assistimos às forças de esquerda em vários países enfrentando algumas dificuldades. Existe uma situação em que ‘as esquerdas se retiraram e as direitas ficaram à frente', mas essas mudanças na América Latina não tiveram efeito sobre o desenvolvimento das relações sino-latino-americanas. As relações da China com a América Latina não são construídas com base na ideologia. As partes, em maior medida e acima de tudo, se orientam pelos interesses dos países. O presidente do Brasil Michel Temer, no segundo dia após sua eleição, foi a Hangzhou para participar da cúpula do G20. Ele também realizou uma reunião com Xi Jinping. Ambos os líderes disseram que continuariam suas relações de cooperação estratégica abrangente e de parceria. Foi também constatada a continuidade no cumprimento de todos os acordos assinados pelo anterior governo brasileiro com a China e o governo Temer também assinou com o governo chinês uma série de acordos.

Presidente chinês Xi Jinping discursando durante a sessão conjunta com o líder norte-americano Barack Obama, na Casa Branca, em 25 de setembro de 2015 - Sputnik Brasil
Trump e Xi Jinping falam ao telefone pela primeira vez
Da mesma forma atuou a Argentina: o presidente, Mauriio Macri, depois de chegar ao poder em dezembro do ano passado, realizou por duas vezes negociações com Xi Jinping. Como resultado, serão promovidos projetos sino-argentinos na área da defesa, ciência e tecnologia, energia, recursos energéticos, energia nuclear e ferroviárias."

A terceira visita do líder chinês à América Latina marca a transição para uma nova fase na cooperação sino-latino-americana em geral e na cooperação a nível bilateral. A estrutura do comércio e do investimento entre a China e a América Latina também está mudando. No passado, o investimento chinês na América Latina, em geral, era feito nas indústrias do setor energético e extrativas. Agora também está crescendo continuamente o investimento chinês na construção de infraestruturas, na agricultura e nas indústrias inovadoras na América Latina. Por exemplo, a China está planejando ajudar o Peru e Brasil a construir uma ferrovia que ligue o Oceano Pacífico ao Atlântico. A China procura diversificar as direções de cooperação em investimentos com a América Latina.

Os especialistas acreditam que Xi Jinping vai fazer lobby a favor da construção dessa ferrovia, que terá uma importância estratégica para a China. Em caso de sucesso, a China como o principal investidor receberá o controle dos fluxos comerciais do porto brasileiro do Açu ao porto peruano de Ilo, no Oceano Pacífico. Não é por acaso que os observadores chamam este projeto de versão ferroviária do Canal do Panamá, que é na realidade controlado pelos EUA.

O analista Peter Yakovlev acredita que Xi Jinping tenciona provocar uma certa reviravolta na política da China na região:

"Se antes Pequim era forçado a olhar de vez em quando na direção de Washington e de alguma forma coordenar suas atividades na região com o lado americano, agora é visível uma tendência para agir de forma independente. A China está buscando preencher um certo vazio que poderá ser criado pela nova política dos EUA ligada ao protecionismo e ao agravamento das relações com alguns países da América Latina, especialmente com o México. Aqui a China está em modo de espera e quer ocupar os nichos que, provavelmente, surgirão na América Latina".

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