Segundo a representante do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, o Governo russo espera que a resolução do Parlamento Europeu não tenha outros desdobramentos, pois, do contrário, haverá retaliação. Zakharova chegou a chamar de “paranoia” o documento do Parlamento Europeu.
A resolução aprovada pelo órgão europeu na quarta-feira, 23, critica o canal de TV RT, a Agência Sputnik News, a Fundação Russkiy Mir (Mundo Russo) e a Agência Federal de Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes, de Compatriotas no Exterior e Cooperação Internacional Humanitária da Rússia (Rossotrudnitchestvo, na denominação em russo).
Especialista em política externa da Rússia, a professora da PUC-Rio, Isabela Gama, mestra em Relações Internacionais, criticou o Parlamento Europeu e a União Europeia, afirmando que a União Europeia demoniza a Rússia por estar a Europa vivendo uma crise de identidade:
"Na minha opinião, a mídia russa não tem nada a ver com a propaganda do Estado Islâmico. O problema não é o Estado Islâmico, o problema não é a mídia russa, o problema é uma crise de identidade e conceitual da União Europeia, que já vem se mostrando há bastante tempo, com migração, refugiados e, por último, o maior problema que foi a saída [da Grã-Bretanha], o famoso Brexit. Essa reação está sendo demasiadamente hostil à Rússia. Afinal de contas a União Europeia precisa culpar alguém e se unificar, tentar fazer essa unificação, e historicamente isso vem sendo levado ao nível de demonizar a Rússia. Estamos falando da Agência de Notícias Sputnik e da RT, que foram colocadas nessa resolução do Parlamento Europeu como ameaças de desinformação à União Europeia."
O projeto de resolução do Parlamento Europeu foi apresentado pela deputada polonesa Anna Elzbieta Fotyga. O documento afirma que a Rússia faz propaganda contra a União Europeia. Dos 691 parlamentares que participaram da votação do projeto, 304 votaram a favor e 179 contra, enquanto 208 se abstiveram.
Os autores do documento comparam as ações das mídias russas à resistência demonstrada em propaganda pela organização terrorista Daesh, que é proibida na Rússia e faz parte da lista de organizações terroristas internacionais elaborada pela Organização das Nações Unidas.
Para a Professora Isabela Gama, não existe o menor fundamento que justifique tal comparação:
"É uma comparação esdrúxula esta feita pelo Parlamento Europeu. O Estado Islâmico é uma organização terrorista proibida na Rússia e que é tida como uma ameaça dentro do país. A Rússia não pode ser comparada a uma organização terrorista. Nem a Agência de Notícias Sputnik nem nenhuma outra agência russa, pelo que me parece, faz uma propaganda anti-União Europeia como o Estado Islâmico, de incitar o ódio e a violência. Portanto, não há como fazer esse tipo de comparação. Para mim, de fato, essa é uma questão histórica entre o Ocidente e a Rússia. Trata-se de um modelo de atuação da União Europeia, já em crise, que, por isso, tenta demonizar alguém, e esse grande alguém é a Rússia. Afinal de contas são esses duplos padrões que vêm sendo travados contra a Rússia há tantos anos, porque se formos lembrar, durante a Guerra Fria, nas décadas de 1950 e 1960, os Estados Unidos fizeram propaganda dentro do Bloco Soviético contra a União Soviética, fizeram a mesma coisa em países com maioria muçulmana após o 11 de Setembro, propaganda em rádios, em agências de notícias, contra a Al-Qaeda, para desestabilizar. Logo, esta é mais uma forma de tentar desestabilizar a Rússia, e mais uma vez estão errando, como vêm errando com a Rússia inúmeras vezes e levando a Rússia cada vez mais a se distanciar da União Europeia, dos Estados Unidos, e levando a Rússia cada vez mais ao Oriente, à China e aos BRICS."
Segundo a publicação oficial "EU Observer" (Observador da União Europeia), o bloco europeu está considerando a possibilidade de destinar 1 milhão de euros (cerca de R$ 3,6 milhões) para uma grande ofensiva midiática destinada a conter as ações das mídias internacionais russas. A alegação é de que a Rússia "está usando de uma maneira agressiva um vasto leque de ferramentas e instrumentos para enfraquecer a União Europeia". Conforme Sputnik News já informou, as "ferramentas e instrumentos" citados são, alegadamente, os partidos europeus de oposição que, de acordo com a resolução do Parlamento Europeu, receberiam financiamento das autoridades russas.