Em junho deste ano, Haftar já visitou Moscou e se reuniu com o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, e com o secretário do Conselho da Segurança, Nikolai Patrushev. De acordo com dados oficialmente não confirmados, em setembro, um enviado de Haftar a Moscou também pediu a colaboração da Rússia para o cancelamento do embargo ao fornecimento de armamentos ao exército nacional da Líbia.
No Oriente Próximo, a estes voos de vaivém do general é atribuída uma grande importância.
Quem é o general Haftar?
Khalifa Haftar é uma figura interessante. Ele nasceu em 1943, foi formado pela Academia Militar de Bengasi, treinado na União Soviética e no Egito, fala russo, participou do golpe de Estado que levou ao poder de Muammar Kadhafi.
Em 1973, durante a guerra com Israel, comandou as unidades líbias que apoiavam o Egito. Ele participou do conflito entre o Chade e a Líbia, durante o qual foi capturado. Depois, Kadhafi renegou Haftar, o que influenciou muito as relações entre eles.
Com o apoio da CIA, Haftar escapou do cativeiro e se mudou para o Zaire, Quênia, e, finalmente, para os Estados Unidos da América. Mora lá há já quase 20 anos e adquiriu cidadania americana. Em 2011, Haftar regressou à Líbia e participou da guerra.
Hoje, na Líbia, há várias forças que possuem pelo menos algum poder real. Entre elas está o parlamento, eleito ainda em 2014, com sede na cidade de Tobruk; o governo de unidade nacional, com sede em Trípoli, criado em março de 2016 com apoio da ONU e da Europa; e o Daesh (organização proibida na Rússia) que ainda não quer se render na cidade sitiada de Sirte.
Até recentemente, Khalifa Haftar tinha o apoio dos EUA, mas depois de se ter recusado a aceitar o governo de unidade nacional criado em março, as relações dos amigos americanos com ele esfriaram consideravelmente. Hoje, Haftar é apoiado pelo parlamento em Tobruk, e ele próprio se baseia na área de Bengasi e ás vezes realiza operações militares, tanto contra os islamitas, como contra os grupos ligados a Trípoli.
Rumores sobre a base russa
Em junho, as negociações com Moscou não deram frutos. As forças especiais dos EUA, Reino Unido e Itália preparavam os líbios para atacar Sirte, a Coalizão ocidental estava bombardeando ativamente Sirte e o Daesh, mas a Rússia estava ocupada com a Síria e não queria interferir.
O famoso órgão midiático israelense DEBKAfile, que goza da reputação de imprensa "amarela", escreve que Haftar pede a Rússia material blindado, helicópteros, aviões, e que é possível que, durante as negociações, ele tenha falado em apoio direto da aviação russa. De acordo com DEBKAfile, a Rússia tem "uma janela de oportunidades", podendo usar para esses fins o porta-aviões Admiral Kuznetsov ou a base aérea de Sidi Barrani, no Egito, perto da fronteira com a Líbia.
Além disso, Moscou poderia pensar bem na criação de uma base militar naval e aérea na área de Bengasi. Seria a primeira base da Rússia pós-soviética na África do Norte, e como sublinha a publicação, apenas a 700 quilômetros da Europa.
As especulações sobre a base russa na Líbia não são novas. Em 2009, a Reuters citou um representante militar russo não identificado, que disse que a Rússia tomou a decisão política de estabelecer bases militares navais russas na Síria, na Líbia e no Iêmen nos próximos anos.
A Brookings Institution, em setembro de 2016, observou que a Rússia não só quer expandir seu mercado de armamento através das entregas à Líbia, mas também está ansiosa por desempenhar o papel principal na reconstrução do país, não permitindo que a Líbia se torne um país pró-ocidental no futuro previsível. Além disso, uma Líbia assim poderá garantir à Rússia (ou seja, à Marinha russa) o uso dos portos de Bengasi e Sirte, o que irá reforçar ainda mais a posição e influência da Rússia no mar Mediterrâneo.