Diplomacia de vaivém: por que o general líbio visita Moscou amiúde?

© AP Photo / KHALIL MAZRAAWI / AFPO comandante do Exército Nacional da Líbia Khalifa Haftar
O comandante do Exército Nacional da Líbia Khalifa Haftar - Sputnik Brasil
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No início desta semana, o comandante do Exército Nacional da Líbia Khalifa Haftar chegou a Moscou e se reuniu com o chefe da Chancelaria russa, Sergei Lavrov, tendo também realizado uma reunião com o Ministério da Defesa da Rússia. Ele expressou seus desejos sobre o recebimento de apoio militar da Rússia para lutar contra os islamitas.

Em junho deste ano, Haftar já visitou Moscou e se reuniu com o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, e com o secretário do Conselho da Segurança, Nikolai Patrushev. De acordo com dados oficialmente não confirmados, em setembro, um enviado de Haftar a Moscou também pediu a colaboração da Rússia para o cancelamento do embargo ao fornecimento de armamentos ao exército nacional da Líbia.

No Oriente Próximo, a estes voos de vaivém do general é atribuída uma grande importância.

Quem é o general Haftar?

Khalifa Haftar é uma figura interessante. Ele nasceu em 1943, foi formado pela Academia Militar de Bengasi, treinado na União Soviética e no Egito, fala russo, participou do golpe de Estado que levou ao poder de Muammar Kadhafi.

Em 1973, durante a guerra com Israel, comandou as unidades líbias que apoiavam o Egito. Ele participou do conflito entre o Chade e a Líbia, durante o qual foi capturado. Depois, Kadhafi renegou Haftar, o que influenciou muito as relações entre eles.

Com o apoio da CIA, Haftar escapou do cativeiro e se mudou para o Zaire, Quênia, e, finalmente, para os Estados Unidos da América. Mora lá há já quase 20 anos e adquiriu cidadania americana. Em 2011, Haftar regressou à Líbia e participou da guerra.

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Ele é uma destacada figura da oposição. Depois de muitos anos de manobras políticas e militares no caos dos eventos que ocorriam na Líbia, após sobreviver a atentados, em abril de 2016, durante a campanha para o regresso ao exército dos antigos oficiais de Kadhafi, Haftar se tornou comandante-em-chefe do exército nacional, o qual seus adversários, no entanto, chamam de mais um grupo de tropas pessoal.

Hoje, na Líbia, há várias forças que possuem pelo menos algum poder real. Entre elas está o parlamento, eleito ainda em 2014, com sede na cidade de Tobruk; o governo de unidade nacional, com sede em Trípoli, criado em março de 2016 com apoio da ONU e da Europa; e o Daesh (organização proibida na Rússia) que ainda não quer se render na cidade sitiada de Sirte.

Até recentemente, Khalifa Haftar tinha o apoio dos EUA, mas depois de se ter recusado a aceitar o governo de unidade nacional criado em março, as relações dos amigos americanos com ele esfriaram consideravelmente. Hoje, Haftar é apoiado pelo parlamento em Tobruk, e ele próprio se baseia na área de Bengasi e ás vezes realiza operações militares, tanto contra os islamitas, como contra os grupos ligados a Trípoli.

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Haftar é apoiado principalmente pelo Egito e pelos Emirados Árabes Unidos, que provavelmente por via aérea poderão estar enviando armamento às unidades do exército nacional de Haftar que estão combatendo. Podem ter sido o Egito e os Emirados Árabes Unidos a mediar e estimular Haftar para pedir abertamente à Rússia o apoio militar.

Rumores sobre a base russa

Em junho, as negociações com Moscou não deram frutos. As forças especiais dos EUA, Reino Unido e Itália preparavam os líbios para atacar Sirte, a Coalizão ocidental estava bombardeando ativamente Sirte e o Daesh, mas a Rússia estava ocupada com a Síria e não queria interferir.

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Agora, com a eleição de Trump como presidente dos Estados Unidos, com uma incerteza acrescida sobre a política do Ocidente no Oriente Próximo e na África do Norte, devido à prolongada falta de uma vitória total sobre o Daesh em Sirte e devido às perspectivas duvidosas de sucesso na luta contra os islamitas em geral, Haftar desejou agora ter garantias, estabelecendo relações com mais uma grande potência, especialmente porque no outono ele conseguiu arrancar à Guarda de Instalações de Petróleo essas mesmas instalações de infraestrutura petrolífera.

O famoso órgão midiático israelense DEBKAfile, que goza da reputação de imprensa "amarela", escreve que Haftar pede a Rússia material blindado, helicópteros, aviões, e que é possível que, durante as negociações, ele tenha falado em apoio direto da aviação russa. De acordo com DEBKAfile, a Rússia tem "uma janela de oportunidades", podendo usar para esses fins o porta-aviões Admiral Kuznetsov ou a base aérea de Sidi Barrani, no Egito, perto da fronteira com a Líbia.

Além disso, Moscou poderia pensar bem na criação de uma base militar naval e aérea na área de Bengasi. Seria a primeira base da Rússia pós-soviética na África do Norte, e como sublinha a publicação, apenas a 700 quilômetros da Europa.

As especulações sobre a base russa na Líbia não são novas. Em 2009, a Reuters citou um representante militar russo não identificado, que disse que a Rússia tomou a decisão política de estabelecer bases militares navais russas na Síria, na Líbia e no Iêmen nos próximos anos.

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Em novembro deste ano, o órgão midiático europeu Modern Diplomacy escreveu que na Líbia a Rússia está tentando que a instabilidade nesse país continue sendo uma "dor de cabeça" para a Europa e que a intervenção da OTAN e a derrubada de Kadhafi causaram indignação pessoal de Putin.

A Brookings Institution, em setembro de 2016, observou que a Rússia não só quer expandir seu mercado de armamento através das entregas à Líbia, mas também está ansiosa por desempenhar o papel principal na reconstrução do país, não permitindo que a Líbia se torne um país pró-ocidental no futuro previsível. Além disso, uma Líbia assim poderá garantir à Rússia (ou seja, à Marinha russa) o uso dos portos de Bengasi e Sirte, o que irá reforçar ainda mais a posição e influência da Rússia no mar Mediterrâneo.

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