A marca superior a 7 mil km² não era registrada desde 2010 e foi detectada pelo sistema do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes). Os principais motivos para o desmatamento foram a retirada de madeira para fins comerciais, abertura de pastagens e de áreas para plantio de soja. O Amazonas foi o estado mais atingido, com um desmatamento 54% maior que o de 2015. O Pará perdeu 3.025 km² de floresta, a maior taxa da Amazônia Legal. Os únicos estados onde o desmatamento recuou foram Amapá (-4%) e Mato Grosso (-6%).
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o coordenador geral da Fundação Vitória Amazônica, Fabiano Lopez Silva, admite que o cenário é bastante preocupante.
"Existem dois fatores primordiais nessas taxas de desmatamento. O primeiro, que a gente vem observando nos últimos anos, é que houve uma mudança de padrão nos desmatamentos na região do sul e nordeste da Amazônia, onde grandes porções de terra eram desmatadas de uma vez só. Nos últimos dois, três anos, o desmatamento se dá de forma mais seletiva e de uma maneira em que os satélites têm muito mais dificuldade de monitorar e identificar."
O segundo ponto fundamental, segundo o especialista, está ligado à crise, especialmente dos estados e do governo federal que têm impactado de forma bastante crítica os orçamentos. No caso federal, há cortes de recursos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio), na esfera federal; nos estados, a redução orçamentária também atinge as secretarias de Meio Ambiente, o que tem diminuído o esforço de controle e fiscalização das atividades ilegais, se refletindo nas taxas de desmatamento.
"Em relação a nossa área de trabalho, que é a Bacia do Rio Negro, no estado do Amazonas, a gente vê que o estado foi o que teve o maior incremento nessas taxas, concentradas no sul. No entorno da área metropolitana de Manaus, houve um aumento do índice de queimadas nos municípios próximos à capital. No sul do estado, o desmatamento se dá por conta da retirada de madeira e por áreas de produção de soja e cultivo de gado, enquanto próximo das cidades o desmatamento se dá pela expansão urbana e pela demanda de matérias-primas, como madeira, para a construção civil."
Lopez Silva diz que a dinâmica de desmatamento em maior volume é um processo. Segundo ele, inicialmente, chegam os madeireiros na área de floresta reservada, onde são extraídas as madeiras de lei de maior valor de mercado. Uma vez limpa a floresta entram os agentes de produção de gado, que terminam de limpar a floresta e transformá-la em área de pastagem. Uma vez estáveis, essas áreas são revendidas aos produtores de soja.
"É um fluxo contínuo que não anda separadamente. Uma atividade financia a chegada da outra."