A avaliação também piorou quando pedida uma comparação entre a atual gestão e a da presidente afastada Dilma Rousseff. Para 40%, o governo Temer é pior que o anterior, enquanto 21% o consideram melhor. É no tocante à economia, porém, que os números mais preocupam. Quando indagadas sobre as perspectivas sobre a economia do país, 41% responderam que as condições vão se deteriorar, contra 28% que apostam em recuperação. Na avaliação de projeção para o desemprego, 67% disseram acreditar que o índice vai aumentar, contra 16%, que esperam diminuição.
Para Daniel Vargas, doutor em Direito Constitucional e professor de Direito na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), o presidente Temer recebeu um voto de confiança da população na promessa de que ele conseguiria resolver o problema da economia. Acreditou que, encaminhando um conjunto de discussões sobre a crise econômica e de propostas de reorganização da economia ao Congresso, isso seria suficiente para sanar o cenário de estagnação e promover mais uma vez a ampliação da renda e das oportunidades e, em consequência, o bem estar da população.
"O que começamos a perceber agora é que, na raiz dessa crise econômica, há também uma crise política que nunca foi sanada. Se não é suficiente organizar uma política justa e bem feita para se mudar a economia do país, também não basta apresentar um conjunto de medidas econômicas se suas bases políticas são instáveis. Base instável porque chegou ao poder por um processo de impeachment que ainda é bastante questionado, e porque nunca conseguiu conquistar o apoio da população em torno de um projeto alternativo, original e digno de credibilidade."
Vargas afirma que, enquanto a população não puder depositar mais uma vez sua confiança na política, e através da política nos seus líderes, vamos continuar num cenário de sangria, mais hemorrágico ou menos hemorrágico.
"Sem que haja esse base muito sólida de resgate de uma confiança plena da população nos seus líderes, é muito difícil que tudo mais flua de forma mais ou menos organizada no país. É dificil aprovar medidas econômicas que consigam gerar efeito porque elas não vão conseguir tocar as pessoas. É difícil dialogar com os demais poderes porque essa desconfiança que vem na base da sociedade acaba repercutindo sobre as bases dos demais poderes."
Na ótica do professor, todo esse procedimento do Estado, sem a política que lubrifica suas engrenagens, acaba se tornando uma espécie de luta corporativa ou transparecendo para a população como um jogo político menor e não como parte de um processo virtuoso dos interesses da população em geral.
"Muitos discutem a necessidade de se reativar os investimentos, e para isso é necessário que haja um mínimo de credibilidade dos empresários e de confiança nas instituições. Como é possível que todas essas ações estimulem o crescimento da economia em um ambiente de deesconfiança política em que os primeiros a sinalizar para a população tensões e fragilidades das diversas partes do Estado são os próprios órgãos do Estado?", diz Vargas dando como exemplo as recentes interpretações contraditórias dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).