Em 8 de dezembro de 2016, o republicano Donald Trump venceu as eleições presidenciais nos EUA, apesar de todas as pesquisas indicarem sua rival, Hillary Clinton, como futura presidente.
"A vitória de um candidato que estava atrás da sua rival no que diz respeito aos recursos, inclusive financeiros, e em confrontação com a máquina burocrática e a mídia mainstream, é uma lição para outros países", ressaltam os autores do relatório "Autópsia da Campanha de Hillary: Como Trump Venceu", citados pela agência russa RIA Novosti.
Mito № 1: O fracasso das pesquisas
Nos primeiros dias após a vitória de Trump, que pasmou muitos norte-americanos, a sociedade, de fato, se pôs em pé de guerra contra os sociólogos: nenhum deles conseguiu prognosticar tal resultado. Entretanto, os analistas acreditam que a culpa não foi deles, mas dos especialistas que não queriam que o republicano ocupasse o cargo do presidente.
Mito № 2: Baixo comparecimento
A teoria de que Trump venceu devido à abstenção elevada, teoria que é ativamente divulgada pela mídia norte-americana, também pode ser rebatida com facilidade.
"A análise do professor Michael McDonald, da Universidade da Flórida, mostrou que o comparecimento nas presidenciais de 2016 foi cerca de 59% do número total dos cidadãos com idade de voto, o que não difere muito das eleições nas últimas décadas", explicam os analistas, ao frisar que em 2012 a taxa de comparecimento foi de 58,6% e em 2000 — de 55,3%.
Os cientistas políticos também desmentem a ideia de que baixo comparecimento alegadamente teria feito o jogo de Trump.
Os cientistas realçam que a mídia norte-americana também faz questão de divulgar uma versão de que Clinton não conseguiu a vitória devido ao comparecimento baixo dos afro-americanos. Entretanto, tal ideia também não passa de um simples mito, já que "segundo as pesquisas de boca-de-urna, a taxa de comparecimento desta camada social se mantém ao mesmo nível que em 2012 — com 12% este ano e 13% na época".
Mito № 3: Hackers russos
Uma das justificações mais comuns da derrota de Clinton é o suposto envolvimento dos hackers russos. Entretanto, isto pode ser facilmente refutado por uma série de fatos, ressaltam os especialistas.
"A recontagem dos votos no Wisconsin, de fato, confirmou todos os resultados iniciais e até verificou mais alguns pontos a favor de Trump — ou seja, 131 votos. Foi ressaltado, em especial, que a recontagem confirmou o não envolvimento de hackers nas máquinas eleitorais", dizem os autores do relatório.
Os especialistas fizeram lembrar-se que o Departamento de Segurança Interna dos EUA tentou aceder ao banco de dados eleitoral do estado da Geórgia, o que "mais uma vez leva a refletir sobre a origem destes hackers".
"Se os democratas culpam os hackers russos e não a sua estratégia eleitoral ruim da sua derrota de 2016, ficarão extremamente desiludidos em 2020", expressa Frank Luntz, citado pela pesquisa.
Mito № 4: A arma secreta de Trump
As acusações do CNN, que afirma Trump teria usado "uma arma política secreta", também são muito exageradas, consideram os cientistas. Trata-se da empresa britânica Cambridge Analytica, à qual Trump, segundo o canal, teria alegadamente pago mais de 5 milhões de dólares para que aquela convencesse os eleitores a votar nele.
"Não é de duvidar que a Cambridge Analytica tenha desempenhado um papel considerável no microtargeting [trabalho com o público-alvo] da campanha eleitoral de Trump [tal como no Brexit]. Porém, esta empresa colaborou com Trump apenas na fase final. Até meados do Verão, Trump não tinha investido no microtargeting, porém, nas primárias superou Ted Cruz, que no momento trabalhava com a Cambridge Analytica, com uma margem considerável. Ao mesmo tempo, desde o primeiro dia da sua campanha e até o dia da eleição, Clinton investiu muito no targeting, nos megadados, tentando superar a campanha de Obama no que diz respeito das inovações tecnológicas. Mas isso não a ajudou", afirmam os pesquisadores.
Mito № 5: Notícias falsificadas
Os cientistas políticos frisam: a ideia de que Trump venceu por um "alastramento amplo de 'notícias falsificadas'" e a chegada da época da "pós-verdade" também é completamente falsa.
"A verdade é que a própria campanha de Clinton usou repetidas vezes falsificações, muitas vezes foi apanhada em flagrante interpretando os fatos à sua maneira e inventando 'notícias'", realçaram.
"É difícil dizer ao certo qual foi o papel que as fake news [notícias falsificadas] desempenharam em ambas as campanhas. Mas é impossível negar que ambos os principais candidatos recorreram a elas de vez em quando. De mesma forma, é impossível dizer que neste sentido a campanha de 2016 foi de alguma maneira diferente das anteriores", concluíram os cientistas.
Mito № 6: Investigação do FBI impediu Clinton de ganhar
Não há motivo para acreditar que a derrota da democrata possa ter estado ligada à investigação do FBI quanto aos vazamentos da correspondência da ex-secretária de Estado, acham os autores do relatório.
Ao ocupar o cargo da secretária de Estado, entre 2009 e 2013, Clinton enviava correspondência, tanto pessoal como de trabalho, através de servidores privados. Por isso, foi acusada de abafar informações, ameaçar o sigilo do Estado e permitir os hackers no estrangeiro de efetuar eventuais vazamentos.
Nos quadros da investigação, Clinton entregou ao Departamento de Estado cerca de 30 mil e-mails do servidor pessoal, mas eliminou outros 30 mil documentos, afirmando que eles tinham caráter privado.
Porém, a investigação foi reiniciada quando faltavam apenas 11 dias para as presidenciais, por terem sido encontrados novos e-mails no servidor do marido da sua assessora. Dois dias antes das eleições, Comey afirmou que o material encontrado não tinha mudado a antiga postura do FBI, o que de fato significou o arquivamento do processo contra Clinton.
"Estas declarações não se confirmam segundo os dados de muitas enquetes. A vantagem entre Trump e Clinton começou a diminuir antes da declaração de Comey. Tanto mais que, em 5 de julho, Comey discursou frisando que não havia nada de criminoso nos atos de Clinton… Este fato não influiu muito no seu ranking", realça-se no estudo.