Ao explicar as razões para a distinção conferida à médica brasileira, que é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz no Recife, em Pernambuco, a revista "Nature" informa que "Celina Turchi integrou uma rede de epidemiologistas, pediatras, neurologistas e biólogos que levou a resultados formidáveis".
A "Nature" também destaca que quando a médica e seus colegas começaram suas pesquisas o conhecimento sobre o zika era extremamente limitado, e Celina Turchi ajudou a produzir uma quantidade suficiente de evidências para demonstrar o vínculo entre o vírus e as consequências provocadas nos filhos das gestantes.
Segundo a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, "o Ministério da Saúde contactou várias instituições de saúde do Nordeste do Brasil, principalmente em Recife, que era o foco principal dos casos de microcefalia. A situação se agravou em outubro de 2015, quando o Brasil tomou conhecimento desse aumento do número de casos".
A Dra. Celina Turchi constatou, ao longo do trabalho desenvolvido com sua equipe, a grande vulnerabilidade das grávidas à ação do zika vírus:
"Uma das razões [para a expansão dos casos de microcefalia] é a de que, quando a epidemia do vírus zika chegou ao Nordeste, a população toda estava muito suscetível à doença. Não se tinha esse conhecimento que temos agora sobre zika e seus efeitos nas gestantes. Até então, a literatura [médica] internacional mostrava o vírus zika como um vírus de menor importância e mais relacionado com zoonoses [doenças em animais] e não com doenças em seres humanos. Não se tinha um conhecimento prévio sobre esta questão.”
Com a multiplicação dos casos de microcefalia, acentuadamente no Nordeste, médicos e cientistas ampliaram o foco de suas pesquisas, segundo a Dra. Celina Turchi:
“Naquele momento, havia a percepção da grande importância e da magnitude que poderia ter um evento que atinge a população de gestantes e que tinha uma consequência tão grave. Nesse aspecto, havia, sim, essa questão da disseminação da doença que parecia possível mas, naquele momento, acho que era difícil prever uma expansão tão importante, tão grave e tão rápida."
De acordo com Celina Turchi, compete agora às autoridades zelar pelo saneamento básico em suas cidades, assim como compete às pessoas e, em especial, às gestantes adotar cuidados individuais e autoprotetores contra o zika vírus. Por isso, a epidemiologista recomenda a aplicação regular de repelentes contra insetos, o uso de roupas com mangas compridas e o máximo de cuidado por parte das mulheres para que não fiquem expostas aos vetores, no caso, os mosquitos Aedes Aegyptii, transmissor da zika, da dengue e da chikungunya.
Quanto ao desenvolvimento de uma vacina capaz de prevenir a ação do zika vírus, a Dra. Celina acredita que ainda será necessário esperar de três a cinco anos para sua colocação no mercado, isto numa perspectiva em médio prazo. De acordo com a epidemiologista, há vários grupos de trabalho atuando na Fundação Oswaldo Cruz e em outras instituições, contando, inclusive, com cooperação de laboratórios sediados em outros países.