A ideia divide assessores e base aliada. Os favoráveis alegam que seria uma oportunidade de o presidente fazer um balanço das medidas que tem adotado desde que assumiu em agosto, após o afastamento da presidente Dilma Rousseff em decorrência do processo de impeachment. Na fala, Temer tentaria mostrar a importância da aprovação do teto de gastos públicos por 20 anos e a necessidade de aprovação das reformas previdenciária e trabalhista para fazer o Brasil voltar a crescer novamente a partir de 2017. Os contrários ao pronunciamento alegam que uma nova fala à nação corre o risco de estimular buzinaços, panelaços e críticas online nas redes sociais, como aconteceram nas últimas falas do presidente na TV.
Para Ricardo Ismael, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica no Rio de Janeiro (PUC-RJ), em circunstâncias normais, é natural que o presidente da República possa se dirigir ao país para fazer um balanço do ano e tentar injetar algum ânimo para o ano que vai se iniciar.
"É importante trabalhar no plano das expectativas para que os atores econômicos e sociais tenham alguma confiança de que a partir de 2017 o Brasil retomaria o crescimento econômico. Sob este aspecto um pronunciamento seria positivo. Ocorre que no Brasil, pelo menos num período mais recente, a partir do governo Dilma 2, a impopularidade do presidente tem dado origem a panelaços, protestos. De alguma maneira, o pronunciamento tem um efeito bumerange, cria um fato político de forma reversa", diz Ismael.
O cientista político diz que há sempre o recurso de o presidente prestar contas à sociedade durante a agenda diária que tem com a mídia. Ali seus pronunciamentos são repercutidos nos jornais noturnos e nos sites. Na visão do especialista, Temer está tentando neutralizar um certo desânimo que tem tomado conta do país no último mês, seja porque a economia termina 2016 sem que houvesse a recuperação esperada quando Temer assumiu, seja pelas investigações da Operação Lava Jato no curso das delações premiadas feitas por executivos do grupo Odebrecht, mostrando pagamentos indevidos e uma lista de favorecimentos a integrantes do governo Temer, ministros, senadores do PMDB e ao próprio presidente.
"Esse ambiente deixa a opinião pública com um pé atrás em relação ao governo", diz Ismael.
Para o professor da PUC-RJ, existe um aspecto do presidencialismo latinoamericano passional, onde há momentos de endeusamento e idolatria, como aconteceu no final de 2010 no governo Lula, e críticas, principalmente quando a economia vai mail, e o Executivo passa a ser diretamente responsabilizado pela opinião pública. "Um mau desempenho da economia potencializa um desgaste natural que já existe."