André ainda aguarda o resultado de outros processos seletivos que fez para outras instituições no exterior.
Filho de uma diarista e um vendedor de produtos de limpeza, André Garcia estudou em escola pública até o nono ano, mas quando foi para o Ensino Médio, conseguiu com muito esforço uma bolsa de estudos em um colégio particular, através de uma ONG, o programa Ismart – Instituto Social Para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos, que oferece bolsas de estudos em escolas particulares a alunos de baixa renda.
Em entrevista exclusiva para a Sputnik, o jovem disse que por três anos enfrentou uma maratona para conseguir estudar em uma faculdade no exterior.
"Desde que descobri o Ismart e comecei a participar do processo seletivo, eu comecei a ver muitas histórias inspiradoras sobre muitas pessoas que estavam conquistando o mundo. Muitas pessoas que estavam estudando nas melhores faculdades do Brasil e do mundo. Por isso fiquei bem interessado em receber uma educação parecida. Eu acabei me apaixonando pelo estilo de ensino superior norte-americano e falei: eu quero isso para mim. Desde o primeiro ano do Ensino Médio até o final eu me dediquei bastante para isso e deu certo."
Para alcançar a meta, André contou que passou por muita luta, como, por exemplo, levar mais de duas horas diárias no trânsito para ir de casa até a escola.
"Eu enfrentava toda essa rotina diariamente para ir à escola. Eu estudava no Colégio Lourenço Castanho, na Vila Olímpia (SP) e morava em Embu das Artes, mas eu ia sem muito choro, pois sou feliz e muito grato pela oportunidade que tive, porque muitas outras pessoas não tiveram a mesma oportunidade, então, eu me agarrei a ela e fiz o melhor que pude."
Ao ingressar na escola particular, o futuro universitário disse que não chegou a sofrer preconceitos por vir de uma escola pública, mas que enfrentou algumas barreiras para manter notas e conseguir melhorar os estudos de língua inglesa, um grande desafio, segundo ele. "Discriminação não teve, pois a minha escola é sensacional e visa formar cidadãos. O que eu mais tive dificuldade mesmo foi acompanhar os estudos, as aulas e fazer as provas. Eu lembro que as minhas primeiras notas foram bem ruins para quem estava acostumado a tirar 9 e 10 na escola pública, mas eu me empenhei, estudei muito. Inglês mesmo foi a maior derrota no começo, eu tirei 4 e 5 na primeira prova, aí eu estudei nas férias, pegava livro na biblioteca e estudava um capítulo por dia. Eu aprendei e me orgulho bastante de ter enfrentado tantos desafios para esse resultado."
A opção pela Universidade Yale surgiu após André desenvolver uma pesquisa sobre aquecimento global e como isso poderia influenciar no número de casos de dengue na sua cidade. O estudo acabou rendendo uma vaga para um curso de verão (Programa Young Yale Global Scholars), que foi realizado entre julho e agosto deste ano, onde o jovem pôde vivenciar o dia-a-dia de um estudante universitário fora do Brasil.
"Quando estudar fora era um sonho para mim, Yale aparecia no topo das melhores universidades do mundo, tem uma rede de ex-alunos famosos e eu acabei me interessando bastante. No começo do segundo ano do Ensino Médio, eu ouvi sobre a oportunidade de participar de um curso de verão. Na primeira tentativa, eu não fui aprovado, mas me esforcei mais para o processo no ano seguinte e consegui uma bolsa completa. Fiquei duas semanas lá e estudei sustentabilidade, energia e meio ambiente. Foi sensacional, porque eu senti na pele o que era ser universitário lá. Eu comia e dormia no campus, tinha aula com professores de ponta da universidade."
André Garcia ainda não sabe a área que vai seguir, até porque a universidade norte-americana oferece por dois anos matérias básicas com diversos assuntos para que o aluno se decida, porém, por conta do trabalho científico realizado na escola, ele acredita que vá seguir o ramo das ciências, como bioquímica ou estudos ambientais.
Ao falar sobre o que a família acha de todo seu esforço ter sido recompensado com a entrada em Yale, o jovem diz que está não só realizando o seu sonho de estudar, mas também o de seus pais, que não tiveram a mesma oportunidade.
"Eu estou realizando um sonho que eles não puderam realizar. Minha mãe, por exemplo, teve que parar de estudar cedo para trabalhar e sustentar a casa. Realmente, eles colocaram todas as fichas nos filhos e graças a Deus estou podendo realizar tudo que eles não puderam e que eu também sonho para mim."
Mesmo diante da crise na educação brasileira e das dificuldades que teve de passar, André Garcia afirma que vale a pena toda a dedicação e alerta que todas as oportunidades devem ser agarradas, pois é possível conseguir conquistar pouco a pouco um lugar ao sol. "A dica que eu dou é que se esforcem, sempre dê o seu melhor em tudo e agarrem todas as oportunidades que vocês tiverem, pois, tudo o que conquistei, eu não fiz sozinho, eu tive muita ajuda. Eu tive muitas oportunidades, que nem todas as pessoas de lugares pobres como eu têm, só que eu me agarrei a elas, diferente do que a maioria faz e dei o meu melhor e assim outras oportunidades apareceram."