Carla Ortiz é uma famosa atriz da Bolívia. Em março de 2016, ela viajou até à Síria para realizar o trabalho de investigação para um documentário sobre o papel das mulheres na guerra síria. Ortiz percorreu 75% do território sírio visitando zonas protegidas pelo governo, áreas libertadas e regiões controladas por rebeldes. Durante sua viagem, a atriz conversou com gente da oposição, pessoas comuns e apoiantes do governo sírio.
Durante sua visita mais recente, Ortiz esteve em Aleppo durante os dias da libertação da cidade. Eis o que ela conta à Sputnik Mundo:
"Em Aleppo você ouve uma explosão a cada 30 segundos. Constantemente. Ao chegar cá, um estrangeiro se dá conta que passar seis anos nestas condições não pode ser uma vida digna."
O documentário que a atriz boliviana está fazendo se intitula "Voz da Síria". Essa obra visa mostrar a experiência da guerra "a partir do clamor real das pessoas como cidadãos". A estreia do filme acontecerá em junho de 2017, na Bolívia e na Síria ao mesmo tempo.
Na opinião de Ortiz, o erro do Ocidente é achar que o Oriente Médio vive em conflito permanente, sendo um caso impossível de solucionar.
"Esquecemos que as grandes potências sempre estão perseguindo seus interesses geopolíticos e econômicos", acha a atriz.
"Com o nosso desejo desesperado de ajudar, temos confiado em ativistas e organizações dos direitos humanos que afirmavam estar nessas áreas de conflito e que não conseguiram transmitir de maneira fidedigna como os sírios estão vivendo", ressalta Ortiz.
Segundo a atriz boliviana, ao contrário do que se diz, existe uma oposição moderada na Síria. Ela explica que é toda essa gente que desde o início pedia reformas ao seu governo.
Quanto à origem dessa desinformação, Ortiz destaca que os meios de comunicação criaram uma propaganda que foi apoiada com intenções boas e más:
"Tenho visitado a Síria em várias ocasiões e nunca vi nenhum representante da mídia ocidental em locais de massacres", constata.
"Então, como eles podem fazer cobertura da guerra pela libertação da cidade ou declarar que Aleppo está em chamas se eles não estavam lá durante esses dias? Eu sim, estive no meio do tiroteio e posso contar sobre isso para você. De onde eles pegam informações?", indaga Ortiz.
Ela acrescenta que a mídia hegemônica não cobre tais informações e em vez disso se focam no conflito bélico onde se trata de uma guerra civil. Mas essa mídia esquece de contar sobre todos os grupos estrangeiros que causaram a verdadeira desestabilização.
"Quando cheguei a Palmira, depois de ela ter sido libertada do Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia em vários outros países), era uma cidade fantasma. A gente na rua contava como lhes cortavam o pescoço com latas de sardinhas. As crianças nos contavam essas histórias. Temos cometido muitíssimos erros. Nos deixámos levar e repetimos notícias sem verificar as fontes que nos trazem essas notícias", explica Ortiz.
A atriz boliviana descreve que os sírios como povo têm um amor infinito pela sua terra, um povo laico, multilíngue, que crê mais nas relações humanas que na religião.
Ortiz destaca que há 16 exércitos presentes nesse pequeno país e que já não se trata de uma guerra civil. Na opinião dela, a mídia esquece de mencionar que a Rússia, Irã, EUA, Turquia, Arábia Saudita, França, Reino Unido, bem como 47 grupos rebeldes, dos quais 40 são terroristas, estão presentes no país.
No final, a atriz aponta que hoje os civis sírios são vítimas de terrorismo e da guerra:
"O que eles querem é que acabe a destruição de suas casas e os assassinatos de suas crianças", conclui.