A crise econômica internacional e a queda brusca dos preços do "ouro preto" abalaram, em especial, os grandes fornecedores do petróleo devido a sua grande dependência da conjuntura do mercado. Entre eles — a Venezuela, que, atualmente, produz cerca de 2,5 milhões de barris por dia.
'Grandes Esperanças'
O ministro do Petróleo venezuelano comunicou que já no ano que vem a república bolivariana reduzirá produção em 95 mil por dia e, na opinião dele, o aspecto-chave para a saída da crise é a observação do acordo da OPEP, assinado no segundo trimestre de 2016.
O professor da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade Estatal de São Petersburgo, Viktor Jeifets, falou com a Rádio Sputnik sobre o futuro da Venezuela, que, segundo a opinião de muitos analistas, está trancada em uma situação criticamente complicada.
Petróleo — grande benção ou grande mal?
Primeiro, vale realçar que o preço médio do petróleo da Venezuela costuma ser inferior ao internacional, inclusive por o país possuir vários tipos de petróleo apesar do mais comum — Brent — o que somente agrega. Ou seja, mesmo que os países-membros da OPEP cumpram todas as disposições do acordo e o preço de Brent suba até de 60 a 70 dólares por barril, o preço do petróleo venezuelano continuará inferior ao normal.
"Por isso que eu, falando a verdade, não partilho o otimismo do ministro venezuelano. Mesmo que os preços subam de maneira como ele falou, não haverá mudanças significativas, acredito eu. Não sei o que deve-se fazer a curto prazo para que a situação melhore", frisa o especialista.
O prognóstico não inspira muita esperança, mas o acadêmico frisa que "fala de uma estratégia para um futuro mais próximo" e ressalta que não apenas o preço do petróleo gerou tanta frustração na economia, mas, em primeiro lugar, os erros da gestão.
Tal "esperança excessiva" que as autoridades da república bolivariana estão depositando na cooperação com a OPEP (até tal ponto que o presidente do país, Nicolás Maduro, decidiu realizar uma viagem aos países-membros) não passa de "uma tentativa de fazer apenas alguma coisa" e mostrar que o governo está se esforçando para sair da crise, frisa o analista, mas isso não dará frutos.
Escolha entre explosão social e caos político
O problema principal é que, ao longo dos últimos anos, a Venezuela vem se tornando em um barril de pólvora com alto risco de explosão social, que pode atingir o nível de guerra civil, já que os prognósticos para 2017 continuam tão péssimos como os deste ano. É por isso que "as autoridades estão se agarrando a este acordo, já que não há outro remédio".
Ao falar da reforma monetária, Jeifets percebe um "tratamento de diagnose, mas não o tratamento do problema". Mesmo tirando os "zerinhos" (sendo que neste ano a inflação somou em mais de 700% e o prognóstico para o ano seguinte é de 2200%), a desvalorização da moeda nacional continua gritante.
Além de um "vulcão" social, há um risco de explosão política: a oposição venezuelana ameaçou o governo que caso nada mude até 30 de janeiro, ou seja, realização da restituição do poder parlamentar, libertação dos prisioneiros políticos, entrega da ajuda humanitária ao país e muitas outras reivindicações, os protestos nas ruas de Caracas se intensificarão.
"Há exigências que as autoridades, de qualquer maneira, não são capazes de cumprir. É, no primeiro lugar, a liquidação da falta de produtos alimentícios. <…> O governo afirma que não há produtos devido à ‘conspiração' dos inimigos externos e que os produtores estão os escondendo. Se isso fosse verdade, então seria possível liquidar o déficit, mas, para isso, a oposição deveria assumir sua culpa parcial. É pouco provável que alguém o faça", explica o acadêmico.
Ao concluir seu pensamento e falar sobre outra reinvindicação — a organização das eleições antecipadas — Jeifets destacou a importância da mudança da lei principal do país, ou seja, a Constituição, o que, por sua vez, tem sido obstaculizado pelo governo ao longo dos últimos anos.