Luciana foi mais uma das inúmeras vítimas de balas perdidas no Rio de Janeiro que a deixou tetraplégica em 2003. Filha mais nova de um motorista de ônibus e de uma merendeira aposentada em Nilópolis, na Baixada Fluminense, ela foi a única dos quatro irmãos que conseguiu cursar faculdade. Em 5 de março daquele ano, ele estava no campus da Estácio de Sá, no Rio Comprido, quando bandidos e traficantes trocaram tiros com a polícia. Um dos projéteis a atingiu na mandíbula e destruiu a terceira vértebra da coluna cervical.
Luciana sobreviveu, passou um ano e nove meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), enfrentou sete cirurgicas, mas conseguiu recuperar a fala. O tempo de internação no hospital a aproximou de parentes de vítimas de violência e que pediam mudanças no Código Penal. Foi o estopim para acender o desejo de fazer algo para melhorar a sociedade. Daí para a política foi um pulo. Cursou Serviço Social em uma faculdade semipresencial e começou a atuar como defensora de pessoas que necessitavam de cuidados especiais.
Tentou a eleição em 2012 como vereadora e em 2014 como deputada estadual. Conseguiu agora, e foi eleita com 16 mil votos, um resultado importante para o PT, que perdeu 50% de presença na Câmara: de quatro para dois. O mandato de Luciana será cumprido com a ajuda de duas técnicas de enfermagem que se revezam em turnos de 24 horas, além do apoio dado pela irmã Jorgiana.
A vereadora tem fisioterapia duas vezes por dia e sessão com fonoaudiólogos uma vez por semana. Toda a estrutura médica, além de sua residênia no bairro do Anil, na Zona Oeste, é bancada pela Estácio de Sá, por determinação judicial. Desde 2013, ela trabalha na subsecretaria de Direitos Humanos do município.
"Assim como eu tive coragem de sair de casa e me candidatar, creio que todas as pessoas deveriam fazer isso para mudar o cenário político. A corrupção está nas pessoas, não nos partidos", diz Luciana.