O número representa um aumento de 73% em relação à média diária do ano fiscal de 2016 que, nos EUA, foi de 1º de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016. O ano fiscal de 2016 já havia representado um acréscimo de 142% em relação a igual período de 2015, quando 1.344 brasileiros foram detidos na fronteira dos EUA com o México.
Para Denilde Holzhacker, professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP), especializada em temas das Américas, um dos fatores para esse aumento de detenções é a crise econômica no Brasil que leva as pessoas a buscar lugares mais estáveis e com a possibilidade de melhores empregos. Ela lembra que os Estados Unidos são um destino bastante comum para a comunidade brasileira há muitos anos. Agora, com a mudança de governo e a perspectiva que vai haver um acirramento no controle de entrada do governo Trump, isso faz com que as pessoas tentem entrar e jogar com sorte.
"Já no governo Obama, a gente teve uma expressiva política de deportações, de controle das fronteiras. Esses números refletem isso. Há uma preocupação do governo americano com relação a esse fluxo. Há redes de transportadores ilegais de imigrantes, os chamados coiotes, além de a fronteira com o México ser uma rota também de entrada de drogas, o que leva a um monitoramento muito grande por parte do governo americano. Há também um esforço dos EUA em fazer com que o Brasil aumente também seu controle de saída, como forma de impedir que essas pessoas, dentro dessas redes, sofram algum tipo de violência e fiquem reféns desses grupos. Não é só uma questão relacionada à questão migratória, mas também à segurança", afirma Denilde.
Outro fator apontado pela especialista para o aumento da migração de brasileiros é a perspectiva que o governo Trump aumente ainda mais o processo de deportação dos imigrantes ilegais.
"É uma tentativa bastante arriscada por parte dos brasileiros que estão fazendo nesse momento esse percurso, buscando sair da crise econômica brasileira para entrar numa situação bastante vulnerável nos Estados Unidos, principalmente a partir do dia 20", diz Denilde, lembrando que o governo Obama também foi bastante duro nessa questão.
"Olhando os dados, foi um dos governos que mais fez deportações. Apesar do discurso de abertura e tentativas de integração dos imigrantes, também houve uma política muito dura de deportação. Não é o caso do que se imagina que vá ser o governo Trump, que é antiimigração. O caso do presidente Obama foi uma preocupação com a segurança. No caso de Trump, há perspectiva que vá acontecer não só a preocupação com a segurança, mas também relacionada ao próprio processo antiimigrante por várias questões internas reclacionada a emprego, uma forte xenofobia que ele apresentou durante a campanha, com um discurso forte que ele está fazendo isso pelo bem dos americanos."
Denilde observa que as comunidades brasileiras estabelecidas em algumas regiões já estavam preocupadas com o novo tipo de política migratória, não só de deportação, mas também de monitoramento cada vez maior desses grupos.
"Como vai ser se as crianças chegarem? E o acesso à escola, à saúde, se você não tem residência fixa? Esses imigrantes não têm direitos trabalhistas ou trabalham às vezes de forma explorada", conclui Denilde.