Apesar da alta, o desempenho da economia brasileira ainda será inferior à estimativa de avanço de 2,7% da economia global e de 4,2% das economias dos países emergentes. Mesmo na América Latina, o Bird estima que o crescimento brasileiro fique abaixo do 1,2% esperado para esses países neste ano. Em 2018, os países latinoamericanos devem crescer 2,3% e 2,6% em 2019, segundo o estudo.
Márcio Pagés, sócio da E2 Economia.Estratégia, diz que há três grandes fatores que ajudam a entender o baixo crescimento do Brasil. O primeiro, segundo ele, é ainda uma certa ressaca das políticas econômicas adotadas nos últimos dez, 12 anos que tiveram um custo elevado em termos de eficiência da economia. Alguns setores que foram inflados artificialmente — como os da construção civil e o automobilístico — ainda estão nesse processo de se readequar a nova realidade.
"Quando você tem uma política econômica que não é macroeconomicamente sustentável, e este é o segundo fator, você precisa tomar alguns remédios um pouco amargos. Em 2015, a inflação estava na casa de dois dígitos e o Banco Central e o governo tiveram que tomar algumas medidas restritivas para trazer a inflação para baixo. A boa notícia é que a inflação já começou a cair", afirma Pagés.
O terceiro fator, observa o economista, é a retomada da confiança, que ainda está bastante contaminada por conta do cenário político. No momento da troca de governo, lembra Pagés, houve uma certa euforia, um boom de otimismo com a volta da economia a padrões mais usuais de gerenciamento, mas o cenário político acaba contaminando um pouco esse otimismo e a retomada dessa confiança se torna comprometida.
"A expectativa é que os dois primeiros fatores não estejam mais tão presentes em 2017, e a gente deve voltar a ver o país crescendo, embora num crescimento muito baixo, com uma alta mais próxima de 2% em 2018", diz o sócio da E2 Economia.Estratégia
Pagés vê com otimismo um cenário de recuperação das commodities, o que vai beneficiar o Brasil. Para ele, após dois anos de preços muito baixos, e depois de um período prolongado é natural que, por conta de menores investimentos na expansão da capacidade desses produtos, os preços comecem a se recuperar na medida em que o balanço dos mercados vai em direção ao equilíbrio.
"Do lado da agricultura estamos tendo um momento muito favorável na questão climática — em 2016 tivemos uma quebra de safra importante, principalmente nas de soja e milho. Tanto do lado da agricultura quanto das commodities metálicas e energéticas a gente deve esperar um ano um pouco mais benéfico. Temos que lembrar que grande parte do investimento no Brasil é realizado por duas empresas produtoras de commodities: a Petrobras e a Vale."