A epopeia de Ice começou quando ele ainda era filhote e passou a trabalhar no 7.º Batalhão de Bombeiros de Itajaí. Seu instrutor, o sargento Evandro Amorim, atendeu a um projeto do tenente-coronel Vieira que, entusiasmado com trabalho semelhante feito por cães salva-vidas na Itália, decidiu implantar o serviço na cidade catarinense. O sargento se aposentou na semana passada, mas transferiu o legado ao filho, o soldado Thiago Amorim, que continuou o serviço com seu fiel escudeiro. Os dois passam alguns dias nas praias da cidade, observando os banhistas e prestando socorro em caso de algum incidente.
O soldado Amorim contou à Sputnik Brasil como começou a carreira hoje lendária de Ice.
Em Santa Catarina, o Corpo de Bombeiros tem uma área de busca, resgate e salvamento com cães. Para um bombeiro militar estar habilitado a trabalhar com cães, ele precisa ser selecionado, fazer um curso e depois atuar na Coordenaria de Cães, que trabalha com toda uma linhagem que leva, em média, 11 meses para ser treinada. Ice é da quarta geração de cães de busca do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina.
"Ele é um cão que tem como função principal trabalhar na busca de pessoas desaparecidas em áreas rurais e deslizamentos de terra em áreas urbanas. Todo o treinamento dele, desde o início, foi realizado no mar. Nós sempre o levávamos para nadar, treinar na praia, corremos com ele pela areia, fazemos sessões de entrada e saída do mar para que ele ganhe resistência", conta Amorim.
O sargento Amorim, condutor e formador do Ice, foi um admirador desse trabalho e pesquisou sobre o trabalho de cão-rebocador realizado na Itália. Santa Catarina tem praias com quebra de ondas, por isso o cão precisa aprender a passar a rebentação de maneira que poupe esforço para ainda nadar e levar o icebelt (boia) até a vítima. Amorim explica que Ice atua como uma ferramenta de trabalho aos guarda-vidas. Quando há dois guarda-vidas na praia e o labrador e há um incidente no mar com três pessoas, os três atuam em conjunto.
"O treinamento foi feito de forma que o Ice passe a uma distância segura da pessoa em apuros, ele passa por trás, evitando que ela o agarre e comprometa a vida de ambos. Ele faz o retorno e solta a boia permitindo que a vítima a alcance. Só então ele inicia o rebocamento da pessoa para a areia."
Ice trabalha no mínimo três vezes por semana nas praias e sempre fora do horário de sol mais forte. Quando não está em ação, permanece na sombra sendo constantemente hidratado para que tenha todas as condições de atuar quando necessário. Desde o final do ano passado, Ice também atua em um projeto terapêutico no Hospital Marieta Konder em Itajaí, onde ajuda na recuperação psicológica e emocional dos pacientes durante as visitas. O soldado Amorim diz que a cinoterapia é um recurso bastante utilizado por hospitais na Europa e tem demonstrado ser bastante útil na recuperação da autoestima das pessoas internadas.