"Olha, foi uma experiência muito rica e ao mesmo tempo extremamente dolorosa."
É o que diz à Sputnik Brasil Eugênio Aragão, ministro da Justiça do Brasil entre 14 de março e 12 de maio de 2016, no ocaso do governo de Dilma Rousseff.
Houve inclusive tensão na família do ministro:
"Até me lembro de que na época, a minha esposa chegou meio nervosa e disse: 'Agora você vai assumir este compromisso e eu perdi o meu marido'. Eu disse: 'Calma, calma, isso não vai ser mais do que dois meses'."
Parecia um pulo "de paraquedas dentro de uma fogueira" e os colegas apelavam: "Não entre nessa. Isso é fria", conta Aragão.
Contudo, o ex-ministro afirma que a sua atuação no ministério foi parte de um esforço importante para salvar o sistema constitucional brasileiro:
"Nada é ruim quando você acredita. Eu digo com toda sinceridade, que eu faria de novo. Mesmo sabendo de tudo que veio, eu acho que, todo o esforço para a gente manter a integridade do nosso sistema constitucional, a integridade do mandato de uma presidente eleita. Todo esforço é pouco e acho que valeu a pena."
"Foi afinal das contas, foram 14 meses de profunda crise política, uma crise econômica que veio a reboque da crise política porque todas as medidas, que o governo deveria implementar para enfrentar a crise, eram sistematicamente sabotadas pelo Congresso. Leia-se, por Eduardo Cunha!"
A crise política começou logo no final de outubro de 2014, quando Dilma Rouseff foi reeleita, gerando uma onda de protesto e desespero entre os seus opositores. Esses estavam também no Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. O clima no TSE na hora da contagem dos votos foi "a base de uísque" e de alegria, no aguardo da vitória de Aécio Neves, do PSDB. Mas depois, quando apareceram os resultados finais, a ressaca bateu. A cena descrita por Eugênio Aragão expõe um Brasil em transe político:
Vale lembrar que Dilma Rousseff foi definitivamente afastada do seu cargo de presidente da República em 31 de agosto de 2016.