O projeto surgiu do acordo que a Roscosmos tem com a Agência Espacial Brasileira (AEB) para uso pacífico do espaço e colaboração na área de construção de saélites. A Rússia já tem instalações para monitorar detritos espaciais, como fragmentos de naves e satélites, mas precisava de um outro ponto de observação no Hemisfério Sul para aprimorar esse monitoramento.
O diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), Bruno Castilho, ao qual o Observatório do Pico dos Dias está subordinado, diz que o mapeamento do lixo espacial vai permitir a colocação de satélites em órbita em rotas mais seguras, diminuindo os riscos de impacto com esses fragmentos, além de prevenir colizão de meteoros com o planeta.
A Rússia contatou o Brasil que se colocou à disposição para receber o telescópio, a AEB fez a intermediação com o laboratório, e o LCA apresentou uma lista com os melhores locais para instalação. A opção pelo Observatório do Pico dos Dias se deu não só em função da altitude de 1.800 metros, como também do número de noites com boa visibilidade por ano, o que é fundamental para o trabalho de observação.
"Para nós está sendo muito legal receber esse telescópio e a equipe da Roscosmos porque, além de observar detritos espaciais e fazer o mapa, esses dados também vão ser usados em astronomia, estando disponíveis para astrônomos brasileiros e russos", diz Castilho.
O equipamento já está em fase final de montagem. O acordo com a Roscosmos foi assinado em abril de 2016, em final de outubro chegaram os equipamentos e nesse meio tempo a firma brasileira contratada pela Roscosmos construiu a parte civil do prédio e em novembro iniciou a montagem.
"Em fevereiro estamos com a segunda equipe da Rússia que tem o pessoal da ótica, eletrônica. O telescópio já está montado e agora eles estão testando as câmaras, ligando toda a eletrônica, os computadores que vão receber os dados e treinando a equipe brasileira que vai operar o telescópio. Ele vai ser monitorado via internet pela equipe da Rússia, mas vai ter técnicos brasileiros, contratados pela Roscosmos, para operar o telescópio in loco. No dia 23 de fevereiro ele deve estar pronto para operar. Durante março vai haver uma fase de testes, alinhamento fino da ótica, ajustes de TV com imagens e a partir de abril se espera que ele opere em velocidade de cruzeiro", prevê Castilho.
O diretor do LNA diz que essa foi a primeira parceria do laboratório com a Roscosmos, que já tem uma projetos mais antigos em execução com a AEB e algumas estações de laser para medir altitude de satélites na Universidade de Brasília (UnB) e na de Santa Maria (RS).
"É a primeira colaboração e esperamos que não seja a última, e que abra as portas para outras parcerias nas áreas de tecnologia e astronomia. A Rússia é um país que tem uma tradição muito grande na área tecnológica e poderíamos ter mais colaborações", diz Castilho.