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Encontro entre Temer e Macri foi só jogo para arquibancada

© Andressa Anholete/AFPMacri faz primeira visita oficial ao Brasil
Macri faz primeira visita oficial ao Brasil - Sputnik Brasil
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A primeira visita oficial do presidente argentino Maurício Macri ao Brasil, nesta terça-feira, 7, quando se encontrou com o presidente Michel Temer para tratar da aproximação comercial entre os dois países, foi mais um jogo midiático do que anúncio de medidas práticas mais amplas, na visão de alguns especialistas em comércio exterior.

Os dois presidentes concordaram na necessidade de aproximação de blocos comerciais, com o México e a Aliança do Pacífico — formada por Chile Colômbia, México, Peru e Costa Rica — após as sinalizações dadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de revisar acordos internacionais e priorizar o mercado interno. De concreto, os dois presidentes ressaltaram ainda a necessidade de reduzir as barreiras fitossanitárias, sintonia no combate ao narcotráfico, apoio às comunidades fronteiriças, cooperação em energia nuclear para fins pacíficos, cooperação no intercâmbio cultural e de missões comerciais, entre outras.

Caio Manhanelli, coordenador em São Paulo da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP), e um dos maiores especialistas brasileiros em política econômica da América Latina, foi conciso na resposta dada à Sputnik Brasil, que o indagou sobre qual era a expectativa concreta de aproximação entre os dois países após o encontro de Temer e Macri:

"De concreto não espero nada de nenhum dos dois, mas, como uma pessoa de fé, torço muito que esse acordo de profissionais de saúde funcione bem e que ajude de uma forma cultural a uma integração melhor dos povos. Para a realidade brasileira e argentina hoje, (o encontro) é algo só midiático, porque os dois países estão enfrentando problemas muito mais graves de ordem interna. O Brasil, de ordem política e a Argentina, de ordem econômica muito mais graves do que um tratadozinho comercial com um país ou outro. Mesmo que o Brasil seja a potência da América Latina,isso não vai resolver. Parece só maquiagem para eles saírem na mídia e dizerem que estão buscando soluções", afirma Manhanelli.

O consultor da ABCOP lembra que Brasil e Argentina são dois países que têm uma sólida formação de Estado nacional, iniciadas nos governos de Getúlio Vargas e Juan Perón, com tradição histórica de fechamento comercial. O especialista diz que a Argentina tem barreiras comerciais construídas ao longo de décadas, de crescimento de mercado interno e de construção de uma nação a partir da exploração dos bens nacionais por aparatos próprios estatais. Segundo ele, os dois países ficaram travados por uma espécie de cinturão de liberalismo no Cone Sul que inclui Chile, Paraguai e Uruguai.

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Nova política comercial dos EUA deve beneficiar Brasil e Mercosul

"O Mercosul é o resultado do que foi o 'Disenso de Washington', porque é inaceitável chamar aquilo de consenso. O Mercosul é um tratado comercial que funciona com ou sem política. Se houver uma anarquia nos países, o Mercosul vai continuar funcionando. A gente está vendo dois governos que têm a impressão de serem entreguistas se reunindo agora para tratar de tratados comerciais exteriores, tendo o Trump em perspectiva, que é um cara que não está nem um pouco interessado em auxiliar o desenvolvimento da periferia do capitalismo, mas sim de explorar o máximo que pode toda a periferia como o velho "Big Stick'. Suspeito muito que esses tratados comerciais estão preocupados na consolidação de um bloco que queira buscar autonomia. Para mim me soa a construção de um bloco para que seja mais facilmente submetido", afirma Manhanelli.

Apesar das críticas, o coordenador da ABCOP destaca alguns temas interssantes surgidos no encontro desta terça-feira, como a criação de empresas binacionais e a questão fitossanitária  na área da saúde.

Na ótica de Manhanelli, o Mercosul não é um tratado de pactos comerciais conjuntos. 

"É de facilitação para que cada um dos países busque seus próprios pactos comerciais, facilitando a logística. A China e Taiwan já fizeram isso antes do Trump assumir, negociar com os países que vão perder espaço junto à zona de influência norte-americana pela forma com o que o Trump estava prometendo fechar o país. A Europa está perdida, discutindo suas eleições, a cada dia que passa aparece um conservador novo. Na União Europeia, quem segurava essa questão (interação de blocos comerciais) era a Inglaterra, França e Alemanha", conclui o consultor. 

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