Uma prova do interesse do México em diversificar o leque de países compradores de seus produtos pode ser verificada na chegada, nesta segunda-feira, 20, de uma comitiva de empresários e autoridades a São Paulo para prospectar novas oportunidades de negócio, não só no setor agropecuário, como também em artigos industriais, incluindo venda de veículos. Hoje, o México é o terceiro maior importador mundial de soja, o segundo de milho e o terceiro maior consumidor mundial de carne suína. Só para o México o Brasil exporta hoje 129 mil toneladas de soja. Com as restrições americanas, o cenário é favorável aos plantadores brasileiros.
Juan Jensen, diretor da 4E Consultoria Internacional diz que a política de Donald Trump de fechar a economia americana — sobretudo a produtos mexicanos e chineses e de trazer as indústrias de volta aos Estados Unidos — tem afetado sobretudo o México, que exporta cerca de 75% dos seus produtos para o mercado americano. Agora, o México vai precisar encontrar outros países para despejar pelo menos parte dessa produção. Jensen vê aí uma agenda comum entre brasileiros e mexicanos.
Segundo o consultor, o grande problema na questão é que as restrições colocadas pelos EUA à pauta mexicana se referem a produtos industrializados como os das montadoras, em que boa parte da indústria mexicana foi concebida para exportar para o mercado americano.
"Se a gente comparar o carro mexicano com o brasileiro, o mexicano tem um nível de qualidade superior em termos de equipamentos, motorização. Os mexicanos podem se beneficiar da exportação de veículos para o Brasil", diz Jansen, observando que para o Brasil o aumento do fluxo de comércio é positivo, ainda que para a indústria uma ampliação do comércio com o México não seja bem vista no momento atual em que a indústria automobilística brasileira, por exemplo, tem utilizado cerca de 50% da sua capacidade produtiva.
"Há espaço para o Brasil produzir mais automóveis, mas não há demanda para automóveis. As pessoas não têm dinheiro e não têm crédito para comprar, seja o automóvel produzido no Brasil, seja o produzido no México", afirma o consultor.
Na visão do analista, a área de commodities agrícolas seria beneficiada, em especial as carnes, embora, num segundo momento, se possa aumentar o fluxo de comércio também de outros setores.
"Essa restrição de comércio que temos visto nos EUA com relação a produtos mexicanos e chineses pode beneficiar a indústria como um todo no Brasil. Os EUA são um importante parceiro comercial do Brasil e a restrição aos produtos mexicanos e chineses gera maior competitividade do produto brasileiro", finaliza Jensen.