Com a aprovação do projeto, o governo do Rio alega que vai poder usar as ações da Cedae como forma de garantia para conseguir novos empréstimos, no valor de R$ 3,5 bilhões, junto à União, segundo acordo firmado no Plano de Recuperação Fiscal do estado.
O texto base do PL 2.345/17, que aborda a Cedae, foi aprovado com 41 votos sim, 28 não. Agora, as bancadas irão destacar as emendas
— Alerj (@alerj) 20 de fevereiro de 2017
No centro da capital fluminense, representantes de movimentos sociais e sindicatos, organizaram protestos contra o resultado do pleito, que, segundo eles, não trará benefícios para a população.
De acordo com a equipe do deputado Marcelo Freixo, do PSOL, um dos maiores opositores à privatização da companhia, ao contrário de que declaram aliados do governador Luiz Fernando Pezão, a Cedae é uma empresa lucrativa, que vale entre R$ 10 e R$ 14 bilhões. Para o partido, vender um bem público para pegar um empréstimo que não cobrirá nem dois meses de folha dos servidores ativos e inativos do estado não faz sentido algum.
"A negociação do governo é insignificante diante do rombo de R$21.5 bilhões nas contas estaduais", disseram os assessores do parlamentar, destacando que há muitas razões para não apoiar a venda da empresa.
Ainda segundo a equipe de Freixo, essa privatização, "feita às pressas, sem ouvir ninguém", não tem lógica alguma se comparada a processos semelhantes ocorridos em outros países, onde muitas cidades que optaram por passar o controle da água e esgoto para a iniciativa privada decidiram retomar o controle público.
"A privatização causou altas taxas e piora no serviço dos bairros mais pobres, já que grandes empresas em geral não têm interesse em investir nesses locais" afirmaram.
A opinião dos funcionários
O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Saneamento Básico e Meio-Ambiente do Rio de Janeiro (Sintsama-RJ), Sérgio Monteiro, parabenizou os 28 deputados que votaram contra a autorização da venda da Cedae.
"Esses 28 guerreiros provaram que não se vendem ao poder público em troca de secretarias e afins, e firmaram seu compromisso. Esses, certamente, serão reconhecidos pelos nosso e pelos nosso pares nas eleições que vêm.
Sérgio Monteiro diz que, de modo geral, os processos de privatização não beneficiam o povo, e dá como exemplo as vendas recentes de empresas públicas nas áreas de energia, transporte e mesmo telecomunicações, cujas tarifas no Brasil estão entre as mais caras do mundo.
"É só ver o que aconteceu com os trens, com as barcas, o metrô. Está provado que o governo tem que estar sempre subsidiando. Agora estão querendo retornar as barcas para o governo do estado. E por que daria certo justamente no saneamento, na água? A guerra mundial no futuro não será em função do petróleo, será da água. O grande capital internacional já está se apossando dos mananciais no mundo. E nós estávamos na vanguarda da resistência. A nocividade da entrega da Cedae é a ponta do iceberg que vai passar o pacote de maldades do governo do estado contra os servidores e que não vai beneficiar o Estado do Rio de Janeiro."
Segundo o vice-presidente do Sintsama-RJ, a população começou a entender que a entrega da Cedae ao capital estrangeiro, a população vai pagar pela água e também pelo esgoto. Na visão de Monteiro o fim do subsídio cruzado — que faz com que o rico pague pela água e o pobre a receba, mesmo sem condição de pagar — vai fazer o povo sofrer. O sindicalista observa que, além do aspecto corporativo da preservação do emprego, a luta em defesa da Cedae é muito maior.
"A Cedae está fazendo o Guandu 2, que vai acabar com o problema de falta dágua na Baixada, os investimentos do sistema Imunana-Laranjal, que vai beneficiar cerca de 1,5 milhão de pessoas em Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e outras localidades. A ordem do governo, mancumunados federal e estadual, é depreciar a empresa e fazê-la mal vista pela população."