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Jovem tradutora cria biblioteca popular em praia do Espírito Santo

© Victor JubiniGostaria que vários projetos assim tivessem em vários lugares do Brasil e que promovesse a unidade das pessoas, afirma Suzana
Gostaria  que vários projetos assim tivessem em vários lugares do Brasil e que promovesse a unidade das pessoas, afirma Suzana - Sputnik Brasil
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A jovem tradutora Suzana Lordelo Braga, de 24 anos, decidiu montar um projeto de biblioteca popular na praia da Costa, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, onde reside, para dar a possibilidade aos moradores da região de terem acesso ao mundo da literatura, devido a inexistência de bibliotecas públicas para a comunidade local.

A ação social, no entanto, precisou ser interrompida temporariamente por conta da onda de violência que atingiu o estado do Espírito Santo no início do ano.

Suzana contou em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil que durante boa parte de sua vida frequentou a biblioteca pública em Vitória, sua cidade Natal, mas quando se mudou para o Espírito Santo não encontrou uma opção.

Determinada em servir a comunidade, a tradutora não pensou duas vezes e neste verão, aproveitando um espaço da igreja na região, teve a ideia de montar um banca de livros na orla da praia da Costa, uma das mais famosas da região, para que todos pudessem ter acesso à leitura gratuitamente.

"Eu sempre gostei muito, sempre frequentei muito biblioteca, só que eu não morava aqui. Quando eu mudei para Vila Velha, eu percebi que praticamente não existia biblioteca pública e que as próprias bibliotecas das escolas, até mesmo das escolas particulares eram muito ruins e pouco frequentadas. Quando eu fiquei sabendo que ia ter um verão livre e que a igreja ia alugar um espaço na praia eu pensei que ia ser uma ótima oportunidade para fazer algo de útil para a comunidade."

Aos poucos Suzana foi conseguindo a doação de vários livros com amigos e ela mesma levava os exemplares empurrando um carrinho de supermercado até a praia. "Eu arrecadei livros entre os meus amigos, pedi doação de livros, pedi na internet, dei os meus e fui juntando. À princípio eu levava em um carrinho de supermercado, eu não tenho carro e não tinha como ficar pagando para alguém levar todo dia. Depois, o meu pai se compadeceu de mim e me ajudava com o carro dele."

© Arquivo Pessoal/Suzana L BragaCom a ajuda dos amigos e pedidos na internet, Suzana conseguiu muitas doações e assim oferecer uma variedade de livros para a comunidade.
Com a ajuda dos amigos e pedidos na internet, Suzana conseguiu muitas doações  e assim oferecer uma variedade de livros para a comunidade. - Sputnik Brasil
Com a ajuda dos amigos e pedidos na internet, Suzana conseguiu muitas doações e assim oferecer uma variedade de livros para a comunidade.

Rapidamente, a jovem colocou as mãos na massa e conseguiu montar uma banca na areia recheada de livros de todos os tipos. "Era uma banquinha no meio da praia. Nós colocávamos placas, distribuía panfletos na praia para as pessoas saberem que estávamos ali e que os livros eram de graça para qualquer pessoa."

Sobre a reação das pessoas ao chegarem na praia e se depararem com a ação, Suzana ressaltou que mesmo quem não ia pegar nenhum livro, parava na banca para se inteirar de sua iniciativa, numa grande democratização literária, que atraiu especialmente leitores com menos de 30 anos.

"Todo mundo achava muito interessante. Até quem não pegava livro parava para olhar, folhear os livos e conversar, perguntar sobre o projeto, mas eu queria usar o espaço da praia não só porque as pessoas poderiam ler lá, mas porque a praia é um espaço muito democrático, de acesso gratuito para todos, qualquer um pode chegar. Nós tínhamos moradores dos prédios na beira da praia e moradores das ruas até a beira da praia pegando livros. Para mim essa democracia era muito importante."

© Arquivo Pessoal/Suzana L BragaOs livros na praia chamavam a atenção de todos, mesmo quem não ia pegar algum livro para ler parava para olhar e saber do projeto.
Os livros na praia chamavam a atenção de todos, mesmo quem não ia pegar algum livro para ler parava para olhar e saber do projeto. - Sputnik Brasil
Os livros na praia chamavam a atenção de todos, mesmo quem não ia pegar algum livro para ler parava para olhar e saber do projeto.

A jovem ficou tão satisfeita com o resultado positivo do projeto, que garante que vai continuar em breve o trabalho social, assim que a situação de segurança melhorar na região.

"Nós demos uma pausa, porque realmente não tinha condição. Agora, eu e meus amigos estamos organizando um evento de troca, onde as pessoas podem levar seus livros e trocar por livros novos. Ia ser também na Associação de Moradores da praia, mas tivemos que dar uma parada, porque não está tendo ônibus regular e ia ficar difícil para as pessoas realmente ter acesso."

O sonho de Suzana, no entanto, é ainda maior conseguir: construir uma biblioteca fixa e ainda poder influenciar outros estados no acesso ao mundo dos livros para a população. "O meu sonho é ter uma biblioteca para o público. A partir do momento que continuamos ali na praia, o retorno foi legal. Cresceu o interesse das pessoas, elas iam doar livros, conversavam, perguntavam muito. Nós vimos que o interesse das pessoas existe. Na verdade esses espaços não existem por uma pressuposição das pessoas de que o público não tem interesse em cultura e isso não é verdade."

© Arquivo Pessoal/Suzana L BragaSuzana contou com a ajuda dos amigos que trabalharam com ela na biblioteca na praia
Suzana contou com a ajuda dos amigos que trabalharam com ela na biblioteca na praia - Sputnik Brasil
Suzana contou com a ajuda dos amigos que trabalharam com ela na biblioteca na praia

A tradutora ressalta que as pessoas gostam sim de ler, porém, ela faz uma crítica sobre o quanto é caro no país o acesso aos livros e fica feliz em saber que o seu projeto está podendo levar o conhecimento de graça para a sua comunidade.

"As pessoas tem sim interesse em ler e em livros, mas livros são considerados bens de consumo muito caro. É difícil uma pessoa ter R$60 para gastar em um livro. Se nós conseguirmos tornar isso público e mais acessível as pessoas, eu creio sim que elas teriam interesse em frequentar espaços assim. Entender que a leitura é um acesso que a pessoa tem para  o conhecimento, a cultura e esse acesso se eu tenho e posso ajudar a outros a ter eu entendo que é uma obrigação minha. Hoje eu quero cooperar para que as pessoas também tenham esse acesso."

Suzana Lordelo Braga espera ainda que sua ação sirva de incentivo para que outros projetos iguais de democratização da leitura se espalhem por outros estados do país. "O Brasil está passando por um momento muito conturbado onde parece que as pessoas desacreditaram uma das outras, não acreditam mais no próximo, no bem, na solidariedade. Eu gostaria muito que vários projetos assim tivessem em vários lugares do Brasil e que promovesse essa unidade das pessoas não em torno de algo político ou ideológico, mas o bem comum." 


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