O estudo do Ipea traz recortes por sexo e raça comparando o branco a negros e analisando as sobreposições de desigualdade durante o período de 1995 a 2015.
Segundo a Técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Natália Fontoura, as mulheres trabalham muito mais hoje, cerca de 7,5 horas a mais que os homens, por conta da dupla jornada, dentro e fora de casa, e ainda assim seguem ganhando menos do que os homens, apesar da escolaridade ser mais alta entre elas.
"A taxa da participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou muito nas décadas anteriores 60, 70 e 80, mas nos últimos 20 anos percebemos uma estabilização dessa participação. Parece que as mulheres alcançaram um teto de entrada do mercado de trabalho, elas não conseguiram superar os 60%, que nós consideramos um patamar baixo até em comparação a outros países. A responsabilidade feminina pelo trabalho de cuidado, ainda continua impedindo que muitas mulheres entrem no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, aquelas que entram no mercado de trabalho continuam respondendo pelas tarefas domésticas. Isso faz com que nós tenhamos a dupla jornada e a sobrecarga de trabalho. E se pegarmos somente as pessoas ocupadas e considerar a jornada dos homens para o mercado e a jornada dentro de cada, a jornada total de trabalho das mulheres é maior do que a dos homens."
No que diz respeito ao grau de escolaridade entre as raças, o estudo do Ipea indica que nos últimos anos, mais homens e mulheres no Brasil chegaram ao nível superior. A especialista explica que entre 1995 e 2015, a população adulta negra com 12 anos ou mais de estudo passou de 3,3% para 12%. Porém, o nível alcançado em 2015 pelos negros era o mesmo que os brancos tinham já em 1995, ou sejam a população branca com tempo de estudo igual ao da negra praticamente dobrou nos últimos 20 anos, passando de 12,5% para 25,9%.
"Analfabetismo é uma questão que avançou muito no nosso país, vem reduzindo muito a taxa para toda a população, mas se comparamos as mulheres negras e brancas, o analfabetismo das mulheres negras é mais do que o dobro das mulheres brancas."
O Ipea destacou ainda a redução de jovens entre as empregadas domésticas. Em 1995, mais de 50% das trabalhadoras domésticas tinham até 29 anos de idade (51,5%); em 2015, somente 16% estavam nessa faixa de idade. 18% das domésticas eram mulheres negras e 10% eram de mulheres brancas no Brasil em 2015. Sobre a renda das domésticas, em 2015 atingiu o valor médio de R$ 739, enquanto o salário mínimo, na ocasião, era de R$ 788. "Nesse últimos 20 anos, podemos ver algumas tendências interessantes, como o aumento da renda das trabalhadoras domésticas. Só que, ainda assim, no último ano da séria 2015, a média do Brasil não alcançou nem o salário mínimo", afirmou Natália Fontoura.