O ato marca a 4ª edição do "Pedalada Pelada" ou "World Naked Bike Ride 2017", que tem como uma das características os participantes estarem nus ou semi-nus para chamar atenção da sociedade sobre o problema. No convite nas redes sociais, mais de 200 pessoas confirmaram presença.
Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, o produtor cultural e integrante do movimento, Norton Tavares, de 35 anos, conta que o protesto tem origem internacional, com início em 2004, quando ocorreram atos simultâneos em países como Austrália, Itália, Países Baixos, Rússia e Estados Unidos. No Brasil, os ciclistas começaram a lutar por um lugar ao sol em 2008, em São Paulo. "A primeira edição foi realizada em 2004 simultaneamente na Austrália, Itália, Países Baixos, Rússia e Estados Unidos. Aqui no Brasil começou em 2008, com a primeira edição em São Paulo e agora já se espalhou por diversas cidades entre elas, o Rio, Porto Alegre, Florianópolis e Belo Horizonte."
Norton explica que o movimento "Pedalada Pelada" tem quatro eixos de lutas. Em primeiro está a questão da banalização da violência.
"O primeiro eixo é sobre a banalização da violência. Indecente é a violência. Um corpo nu na rua chama muito mais atenção, do que um corpo inerte sujando de vermelho as ruas da cidade com o sangue depois de um atropelamento. Cem corpos nus chamam mais atenção na rua, do que cem negros assassinados dentro de uma favela. Cem corpos nus pedalando nas ruas causam mais indignação, do que cem corpos decapitados nos presídios. Uma das coisas que atacamos são os valores invertidos, a violência foi banalizada, enquanto nossos corpos sofrem repressão."
O segundo eixo é conquistar mais visibilidade para os ciclistas. "O segundo eixo é a questão da visibilidade. Um dos argumentos utilizados pelo motorista depois de atropelar um ciclista, é que ele não viu o ciclista. Parece que somos invisíveis nas ruas, mas quando estamos sem roupa todo mundo nos enxerga," reclama Norton.
Mais segurança para os usuários de transportes não motorizados no trânsito é o terceiro eixo.
"O terceiro eixo é a questão da fragilidade. Quando estamos pedalando, somos apenas nós e nossos corpos na rua, não temos uma tonelada de aço envolta nos protegendo. Somo extremamente frágeis e precisamos que os veículos maiores e mais pesados nos protejam no trânsito," alerta o produtor cultural.
Por fim, o produtor destaca que o quarto eixo do movimento é a celebração pela união e a paz, contra a violência diária que sofrem. "O último eixo é o da celebração. É na festa e celebração que encontramos a resistência contra a violência cotidiana que sofremos. Nesses encontros conseguimos força para no dia seguinte pegar a bicicleta de novo e enfrentar o trânsito."
Norton revela que o grande problema enfrentado pelos ciclistas é a falta de fiscalização nas leis de trânsito diante das ameaças dos motoristas.
"A lei existe, o que não existe é a fiscalização. Um dos artigos mais violados quando estamos pedalando é o que garante a distância de um 1,5 metro do ciclista, quando um veículo for ultrapassá-lo. Essa distância não é respeitada, tem motoristas que passam a 50 cm a 20 cm, são as chamadas finas educativas. Muitos motoristas acham que bicicleta não tem que estar na rua, que rua é só para carros. Assim, como uma forma de nos dar um corretivo, os motoristas violam esse artigo da lei e passam muito perto da gente para nos assustar e desencorajar a utilizar a bicicleta como meio de transporte.”
Sobre a receptividade da sociedade de um movimento com manifestantes nus pelas ruas da cidade em protesto, Norton diz que as reações são diversas, mas ressalta que nunca foram vítimas de violência. "Acontece de tudo, tem gente que se diverte, tem gente que ri, algumas pessoas de fato ficam chocadas e falam que é uma pouca vergonha. A reação é diversa, mas felizmente nenhum ato de violência aconteceu. Aqui no Rio felizmente, a maior parte do retorno que recebemos das pessoas é positivo."
Norton afirma que o movimento é 100% pacífico onde só querem garantir o direito por lei de utilizar as bicicletas com segurança nas ruas.
"Nós queremos paz. Não queremos morrer fazendo uma das coisas que mais gostamos que é pedalar."
O produtor cultural lembra ainda que para participar da "Pedalada Pelada" o nu não é obrigatório. "Nós estimulamos que se fique todo mundo nu, mas falamos para as pessoas irem com a menor quantidade possível de roupas para se sentirem a vontade. Pode ir só de biquíni, calcinha, pode ir de cueca. O nu não é obrigatório. Traga cartazes, tintas para escrevermos mensagens de paz nos nossos corpos. É muito divertido, depois acabamos dando um mergulho no mar em alguma praia."
A concentração do "Pedalada Pelada", acontece neste sábado (11), a partir das 18h, na Cinelândia, no Centro do Rio. Além do Rio, no mesmo horário, um ato acontece simultaneamente, na Avenida Paulista, em São Paulo.