Em meados de fevereiro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto sobre o reconhecimento por parte de Moscou dos documentos concedidos aos cidadãos ucranianos e apátridas que residem nos territórios das repúblicas autoproclamadas de Donetsk e Lugansk, "até que haja uma solução política nestas regiões".
O chanceler russo, Sergei Lavrov, afirmou, por sua vez, que ao tomar tal decisão, as autoridades russas se orientaram apenas por motivos humanitários.
Tudo depende de Kiev
O enviado especial da Rússia junto à OSCE, Aleksandr Lukashevich, afirmou que Moscou está disposta a cancelar sua decisão sobre o reconhecimento dos documentos.
Infelizmente, ainda há poucos sinais para isso — por exemplo, há pouco tempo Kiev deu mais um passo no processo da ruptura das relações com Donbass ao anunciar o bloqueio total de transportes em relação à região. O diplomata russo afirmou que a decisão não tem nada a ver com senso comum e contradiz os acordos de Minsk.
Kremlin: foi uma decisão totalmente correta
O porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov, afirmou que a decisão de reconhecer os documentos dos residentes de Donbass foi correta. Segundo o alto oficial, as autoridades foram "obrigadas" a fazê-lo.
"Aquilo como um país, neste caso, a Ucrânia, está recusando suas próprias regiões de modo resoluto e contínuo, condenando deste modo milhões dos seus cidadãos a viver sem providência social, sem serviços bancários, de saúde pública, serviços jurídicos e de documentos, é, claro, uma situação sem precedentes, na qual o país está deliberadamente negando uma das suas regiões", assinalou o representante do Kremlin.
Segundo ele, as ações conscientes de Kiev para romper os laços com a região não significam que milhões de ucranianos devam viver sem qualquer tipo de assistência social.
O porta-voz do presidente russo também frisou que Moscou está interessada em uma Ucrânia "unida, previsível e próspera".
"Por enquanto, infelizmente, o país está longe de alcançar isso", resumiu.
Passaportes de Donbass têm saída enorme
Nesta terça-feira (14), o chefe da República Popular de Donetsk, Aleksandr Zakharchenko, declarou que os pedidos para receber um passaporte da república autoproclamada tinham sido enviados por mais de um milhão de pessoas. Segundo o dirigente, as autoridades estão considerando a hipótese de inaugurar novos escritórios do serviço responsáveis pela concessão dos mesmos.
Ao mesmo tempo, conforme disse o chefe do serviço migratório do Ministério do Interior da República Popular de Donetsk (RPD), Vladimir Krasnoscheka, ao longo dos últimos 10 anos (antes do reconhecimento dos documentos por Moscou) pouco mais de 40 mil pessoas receberam os respectivos passaportes.
"No ano passado, 179 cidadãos estrangeiros receberam passaportes da RPD. Neste ano, há mais solicitações de estrangeiros", adiantou Krasnoscheka.
Bloqueio de Donbass
Um pouco mais cedo, o presidente ucraniano, Pyotr Poroshenko, promulgou a decisão do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia sobre o congelamento de transportes de carga nos territórios de Donbass não controlados por Kiev.
Ao comentar a decisão das autoridades ucranianas, Moscou afirmou que isto levaria à escalada ulterior do conflito em Donbass. Segundo disse o porta-voz do presidente, esta questão tinha sido abordada durante uma reunião do Conselho de Segurança russo.
"Frisava-se que tais atos dirigidos à separação de toda a região do país levam a uma escalada ulterior de tensão", partilhou Peskov com jornalistas.