O impacto no agronegócio é considerável também na contabilidade das empresas. De sexta-feira até o início da tarde desta segunda, grandes frigoríficos como JBS, BRF, Marfrig e Minerva — mesmo os duas últimos não sendo citados nas investigações da PF — já perderam R$ 7,7 milhões em valor de mercado na Bolsa de Valores de São Paulo. A notícia não poderia chegar em um momento pior, na medida em que o Brasil vinha conseguindo grandes avanços nas negociações de um acordo comercial com a UE, que se arrasta há mais de 20 anos. Todo esse trabalho, desenvolvido na abertura de novos mercados para a carne brasileira, como também na Ásia, corre o risco de ir por água abaixo ou pelo menos sofrer atraso nos planos de elevar vendas.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirma que houve um superdimensionamento na divulgação das investigações por parte da Polícia Federal, dando a entender ao grande público que toda a carne produzida no Brasil está sob suspeita ou de contaminação com substância nocivas à saúde humana ou de prazo de validade vencido.
"O que foi divulgado na sexta-feira passava a impressão de que todo o segmento de carne no Brasil tinha problema, quando na realidade, no que vimos no final de semana é que são 27 frigoríficos que têm problemas pontuais. Quando a Polícia Federal de um país faz uma divulgação, você tende a acreditar no que a PF está fazendo. A divulgação como foi feita e a forma da divulgação geraram um problema muito maior. Agora temos que explicar para o mundo o que aconteceu", diz o presidente da associação de exportadores.
Castro diz que o problema não será de fácil solução, na medida em que hoje o mundo não tem grandes fornecedores de carne. Os três maiores de carne bovina são Estados Unidos, Brasil e Austrália. A Argentina, que foi em passado recente um grande exportador, hoje já não tem capacidade de fornecer para atender em escala à demanda mundial. Na carne de frango, os dois maiores exportadores também são Brasil e EUA.
Números do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) comprovam a importância do setor de carnes para a balança comercial brasileira nos últimos anos. Só as vendas para a União Europeia, Coreia do Sul e China passaram de US$ 2,8 bilhões em 2013 para US$ 3,6 bilhões em 2016, com a China respondendo por quase metade deste total. Mais de 80% das 107 mil toneladas importadas pela Coreia do Sul no ano passado vieram do Brasil.
"O Brasil ocupou muito espaço no mercado internacional pelo fato de termos extensão territorial para crescer, melhoria da genética no Brasil e produtividade. O que a gente lamenta é que, no ano passado, todas as commodities das carnes tiveram queda de preço e nesse ano, até março, estavam tendo um forte aumento na cotação. Só o preço da carne suína aumentou 40% na exportação, a carne bovina, 10% e a de frango subiu 20%. Estaríamos recuperando a perdas do ano passado, aumentando quantidade e preço. Era um ganho duplo para o produtor, o que significaria mais impostos para o governo. Só que agora o cenário se inverte completamente. Vamos ter redução da quantidade vendida, do preço de exportação. O exportador tem redução na receita, o governo, na dos tributos. Tudo aquilo que a gente não imaginava", diz Castro.
O presidente da AEB observa que, com as notícias sobre a carne brasileira, o mercado deve passar por uma redução de preços por pelo menos seis meses. Ele também não acredita que o embargo não deve ser muito longo, na medida em que não há fornecedores em quantidade com porte suficiente para atender à demanda global.
"Ou os países relevam algumas coisas, ou simplesmente vão deixar de importar carne e frango", diz Castro, lembrando que na semana passada o noticiário internacional também reportava problemas nos Estados Unidos com o surgimento de foco de gripe aviária.