No relatório divulgado pela entidade, relativo a 2015, o Brasil ocupa a 79ª posição numa lista de 188 países. Na América do Sul, o país ficou atrás até da Venezuela, colocada na 71ª posição, e só superou o Paraguai, no 110º lugar. O IDH leva em consieração três grandes grupos de avaliação: saúde (expectativa de vida), conhecimento (média de anos de estudo) e padrão de vida (renda nacional bruta per capita). Segundo o relatório, a perda de renda observada em 2014 e 2015 foi a principal responsável pelo desempenho do Brasil. Na visão dos entrevistados, o relatório de 2016 não deve trazer bons prognósticos, após o Produto Interno Bruto (PIB) ter encolhido 3,8% em 2015 e 3,6% no ano passado.
Na opinião do cientista político Ricardo Ismael, também professor da PUC-RJ, os números preocupam, porque o Brasil, em relatórios anteriores — principalmente na década passada, quando havia um crescimento econômico sustentável — sempre se mantinha na faixa se encontrava na faixa dos primeiros 70, sempre melhorando. O cenário para ele agora é outro.
"Além de manter uma posição desconfortável, o valor mostra que o Brasil não avançou depois de muitos anos. O relatório mostra que isso se deveu em função do crescimento econômico. A gente sabe que em 2015 houve uma queda do nosso PIB em 3,8%. Houve um pequeno avanço em saúde e educação, mas a queda no rendimento per capita terminou fazendo com que o Brasil permanecesse estagnado, o que é uma notícia ruim. Quando chegarem os números de 2016, a expectativa é que não haverá também melhoras", diz.
Para Ismael, o problema é como virá a classificação face à crise econômica vivida pelo país também no ano passado, considerada a pior da sua história. Ele lembra que só há registro de dois anos seguidos de recessão no Brasil, e isso lá no início dos anos 30 e mesmo assim não na atual dimensão. Nos cálculos dos especialista, se for somad em 2014, 2015 e 2016 a queda da renda per capita do brasileiro chega a 11%.
O relatório da ONU aponta ainda que, apesar das melhoras nos últimos anos, o tempo médio de escolaridade do brasileiro chegou a 7,8 anos em 2015, abaixo da registrada nos países-membros do Mercosul e dos BRICS. No tocante à saúde, a expectativa de vida do brasileiro passou de 73,3 anos em 2010 para 74,7 anos em 2015. O maior tempo de vida, contudo, não é sinônimo de melhor qualidade de vida, principalmente agora com as profundas reformas pretendidas pelo governo na Previdência Social.
Já na opinião do cientista político Luciano Dias, consultor de diversas entidades, entre elas a Fundação Milton Campos, a estagnação do Brasil no IDH passa para o governo um recado trivial: para um país com as características do Brasil, marcadas por grandes desigualdades e por uma organização deficiente dos serviços básicos do Estado, é fundamental a existência de taxas elevadas de crescimento econômico, o que reduz, por vias transversas, a desigualdade, reequilibrando um pouco a distribuição de renda.
"A tragédia brasileira é essa. É uma sociedade profundamente desigual, e os mecanismos de crescimento social, sem o crescimento econômico, ficam muito prejudicados e são marcados por uma rápida reversão. É bem provável que os números do próximo ano sejam ainda piores em função da recessão, da crise que afeta a receita dos governos estaduais e a qualidade dos serviços que oferecem. Vivemos nesses últimos dois anos uma verdadeira tragédia econômica provocada pela política econômica do governo Dilma", diz o especialista.
Dias observa que, embora a sociedade se beneficie de alguns serviços que contribuem para uma expectativa de vida mais elevada (saúde, vacinação, água tratada e saneamento), o número da educação é vergonhoso.
"Sete anos de escolaridade do Brasil, na média, é um país de ginasianos, um país com uma compreensão mínima do que é ciência, de elaboração de texto e de compreensão da língua portuguesa. Esses números são uma tragédia."