A operação Carne Fraca revelou esquemas de corrupção com participação de funcionários públicos que receberam subornos para fechar os olhos à má qualidade da carne exportada do Brasil. Na lista de suspeitos estão 21 empresas, inclusive as maiores: a BRF e JBS.
Apesar da frase "fornecimento de carne podre" poder assustar tanto o consumidor quanto os países importadores, esse não é um assunto tão vasto como pode parecer.
"Por enquanto são apenas 21 as empresas que estão envolvidas no escândalo, com milhares de produtoras e exportadoras de carne para todo o mundo", sublinha Yushin.
Ele confessa que é difícil indicar pelo menos um país onde esquemas parecidos não se realizem. Entre eles estão a União Europeia, os EUA, o Canadá e até a Rússia.
"A questão é até que ponto são frequentes estes casos. Seria pouco provável Brasil poder exportar carne para 150 países com controle muito rígido, especialmente para a Rússia, [se a carne brasileira fosse de má qualidade]", afirma Yushin. "Então, o Brasil exportou mais de um milhão de toneladas de carne [bovina em um ano] e toda ela estava podre? Que tolice!"
No entanto, o chefe do Comitê Executivo da Associação Nacional de Carne reconhece que o aparecimento da empresa tão grande como JBS na lista da investigação é uma baixa significante na economia brasileira.
"Para o Brasil, um país onde a exportação de carne representa uma grande parte da economia, este é um golpe sério para sua reputação", diz um dos líderes da Associação Nacional de Carne.
"Apenas com uma investigação objetiva e rigorosa o Brasil poderá recuperar sua reputação", opina Yushin.
Respondendo à pergunta se a Rússia pode sofrer com a falta das importações do Brasil, Yushin disse que será muito difícil encontrar uma substituição.
"Se falarmos da carne de frango, a baixa não é tão significativa, mas no que toca à carne de boi, o Brasil representa 90% dos fornecimentos estrangeiros, cerca de 200-250 mil toneladas anualmente, claro que não enfrentaremos fome, mas seria muito difícil encontrar uma substituição adequada", afirma Sergei Yushin.
"É pouco provável que a Rússia cancele completamente a exportação brasileira. Isso acontecerá somente se os brasileiros descobrirem que tudo na verdade funciona de modo errado", admite o chefe da associação russa.
Entretanto, no dia 21 de março, o Rosselkhoznadzor havia deliberado reforçar o controle sobre as encomendas de carne do Brasil, reagindo ao escândalo. De acordo com o portal Lenta.ru, a porta-voz da organização, Yulia Melano, destacou que estão sendo realizadas análises da carne, no entanto a parte russa não dispõe de dados oficiais, porque todas as informações foram recebidas da mídia. O pedido correspondente já foi enviado ao Brasil.
Em dezembro de 2012, a Rússia suspendeu a importação da carne bovina brasileira depois de ter determinado que as empresas usaram hormônio do crescimento na criação do gado. O embargo foi levantado em agosto de 2014.