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Poluição veicular no Brasil: tampando o nariz com a peneira

© Maurício Lima/AFPIbama pode ampliar investigação sobre a Volkswagen
Ibama pode ampliar investigação sobre a Volkswagen - Sputnik Brasil
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O escândalo do "dieselgate" pode ter mais desdobramentos no Brasil. Nesta terça-feira, 28, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciou que vai investigar unidades mais novas da picape Amarok, produzida pela Volkswagen, por suspeita de também fazerem parte da fraude de motores a diesel detectada no país.

Segundo o instituto, vai ser apurado se houve fraude na fase L6 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). Testes feitos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a pedido do Ibama, sugerem que a prática ilegal de "maquiar" a emissão de poluentes durante os testes de laboratório pode ter se repetido em modelos mais novos da Amarok, não somente nas 17 mil unidades dos anos 2011 e 2012 que já foram confirmadas pela montadora. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. (Ibama) decidiu manter a multa de R$ 50 milhões à montadora, cobrou um recall e deu prazo de 20 dias para que a empresa pague a multa ou entre com um novo recurso.

No final de 2015, a montadora admitiu que 11 milhões de seus veículos a diesel produzidos em todo o mundo tinham um dispositivo que identificava quando passavam por uma inspeção ambiental. O dispositivo entrava em ação, fazendo com que o carro emitisse menos poluentes. O escândalo custou a renúncia do presidente executivo do grupo, Martin Winterkorn. No Brasil, a Volkswagen informou que 17.057 unidades da Amarok, modelos 2011 e 2012, dispunham desse software. 

A ambientalista e presidente da ONG Ecoar, Miriam Duailibi, se diz chocada com a divulgação de notícias como essa.

"É um absurdo que em pleno século 21, mais de 30 anos depois da questão do aquecimento global — a ciência já comprovou que a origem desse desequilíbrio climático que o mundo todo está vivendo é gerado pelas atividades humanas, especialmente pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) —,  algumas grandes empresas, cujas matrizes estão em países que têm uma legislação ambiental supersevera, como é o caso da Alemanha, ainda têm coragem de usar artifícios tão vulgares para ludibriar os consumidores, os órgãos fiscalizadores. Será que não percebem o mal que estão fazendo não a terceiros, mas a si mesmos?" questiona Miriam.

A presidente do Ecoar aponta uma grande contradição nessa postura empresarial, na medida em que as pessoas que cometem esse tipo de fraude vivem nesse mesmo planeta.

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"Isso me lembra muito o grande lobby que foi feito há muitas décadas pela indústria do tabaco, tentando provar que o cigarro não fazia mal e hoje a gente sabe quantos milhões de pessoas no mundo são vítimas do cigarro. A mesma coisa está acontecendo agora com a questão climática. Perdemos muito tempo no combate ao aquecimento global por conta do lobby das indústrias automobilísticas e das indústrias de petróleo que tinham a participação de alguns governantes muito poderosos como o governo de George Bush, que deu muito recurso e voz a cientistas que estavam a serviço deste lobby até que as evidências chegaram a um ponto em que não se pode mais negar", diz Miriam, que se mostra preocupada com a sinalização dada pelo presidente Donald Trump em termos de política energética com a valorização de políticas de incentivo a combustíveis fósseis.

Para a presidente do Ecoar, felizmente hoje as pessoas estão muito mais alertas, as redes sociais ajudam muito na difusão de informações, denúncias e na mobilização de grupos. "Eu, por exemplo, não compraria mais um carro de uma montadora que se comporta dessa maneira", opina Miriam.

Procurada, a Volkswagen do Brasil enviou a seguinte nota oficial à Sputnik:

“A Volkswagen do Brasil foi notificada na quinta-feira (23/03), está analisando a decisão e se manifestará oportunamente”.


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