A pequena Alice tem uma história de superação desde a barriga da mãe, Silvandra Araújo, de 39 anos, que teve pressão alta durante toda a gravidez e ainda precisou fazer uma cesárea de emergência no sexto mês de gravidez para salvar a criança.
Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, a médica Maria do Carmo Leitão, que é diretora clínica da Santa Casa de Mogi das Cruzes e plantonista da UTI Neonatal e acompanhou toda a trajetória de luta de Alice, disse que para um bebê prematuro a recuperação dela foi surpreendente. Após seu nascimento, a pequena Alice perdeu ainda mais peso chegando a 510 gramas.
"É um bebê que apesar da imaturidade extrema e do baixo peso. Teve um nascimento traumático com uma cesária, depois nos primeiro dias teve a perda de peso e chegou a pesar 510 gramas. O caminho para que ela pudesse se desenvolver significou várias medicações, cuidados. Ela estava entubada e durante esse período até dia 23 de março, quando foi o período que ela conseguiu ficar fora do aparelho e respirando espontaneamente, nós tivemos seis tentativas de entubação."
Maria do Carmo explicou que o grande problema dos bebês prematuros é a dificuldade de respiração devido a imaturidade pulmonar. "Isso é o fator preponderante, que tem que ser a primeira coisa que devemos sanar, porque senão ele não consegue ter uma evolução."
Além do problema respiratório normal em bebês prematuros, a médica ressaltou que a pequena Alice enfrentou e venceu muitos desafios para sobreviver, amparada por uma equipe médica qualificada no atendimento de gestação de alto risco.
"Ela apresentou várias intercorrências durante a internação, quadros infecciosos, que é próprio do prematuro que permanece internado e entubado por muito tempo. Só que ela sempre passou de uma forma tranquila."
Se de um lado Alice lutava com os médicos pela vida, do outro lutavam também os pais da menina, especialmente a mãe Silvandra Araújo, que mesmo morando em outra cidade esteve ao lado da filha durante toda a licença maternidade. "Ela não mora no município, mora 20 quilômetros daqui em Suzano. A mãe e o pai tem livre acesso. Quando ela estava de licença gestante, ela conseguia ficar, só que ela começou a trabalhar e ficou mais difícil comparecer. No final, quando estávamos programando a alta, nós pedimos que ela viesse para que ela pudesse dar banho, mamadeira para o bebê não sentir a diferença dos cuidados. A mãe compareceu e o sucesso foi fervoroso."
A diretora clínica da Santa Casa admitiu que toda a equipe médica do hospital acabou se envolvendo emocionalmente com a pequena Alice e a saudade já é grande.
"Nós brincamos que é um luto positivo, porque ela faz parte do nosso dia-a-dia. Nós vimos o primeiro sorriso, ela conseguir ficar sem oxigênio, ela sair de algumas medicações que não precisava mais. Cada passo nós contribuímos e convivemos com isso. O fato dela não estar mais no leito dá uma saudade, mas ficamos felizes porque ela seguiu seu caminho e voou para a casinha dela."
A médica destacou ainda que a grande mensagem que fica diante da superação da pequena Alice e para as mães que neste momento enfrentam o mesmo problema com seus bebês prematuros é a importância da presença da família durante o tratamento. "O fundamental nessa história toda é a família presente, principalmente a mãe, porque quando o bebê nasce ele se afasta da mãe e perde a referência. Quando a mãe se faz presente e começa a fazer o bebê canguru, ele percebe o batimento cardíaco, que para ele é algo familiar. A família junto, o pai conversando e acreditando que o bebê consegue sair é fundamental para o sucesso, e lógico uma equipe preparada, coesa e olhando na mesma direção. Nós comprovamos que a mãe que permanece junto do bebê prematuro é satisfatória a evolução desse bebê."