Em entrevista exclusiva para Sputnik Brasil, Binho contou que sempre gostou de ler e em 1995 quando o casal abriu um bar no Campo Limpo, e entre uma venda e outra, começou a fazer no estabelecimento um projeto musical chamado a "Noite da Vela", onde se tocavam discos de vinil intercalado com a apresentação de poesias. Dali surgiu a primeira ação literária itinerante, levar a poesia para postes do bairro.
"Eu e Suzi montamos um bar aqui no Campo Limpo. No bar não queríamos só vender pastel e fazer sucos, nós queríamos algo mais. Começamos com um movimento que chamamos de Noite da Vela, onde tocávamos vinis. Em uma dessas Noites nós decidimos colocar placas com poesias em postes."
O poeta não parou por aí. Para levar a literatura e outras formas de cultura para os moradores do bairro, o poeta criou em seguida o Sarau do Binho. "A partir desse movimento as coisas foram surgindo até chegar no Sarau. Com a história dos livros e da poesia eu comecei a pedir doações para as pessoas que tinham livros e começamos a fazer esse movimento de troca e doações."
Com o nascimento do Sarau, Binho não parou mais com seu trabalho solidário e inventou a partir de 2004 outras ações itinerantes para facilitar o acesso das pessoas aos livros. Nasceu a 'Bicicloteca", uma bicicleta com uma cesta cheia de livros, que divulgava o Sarau e distribuía exemplares, além da "Brechoteca" e o "Pra Ti Ler", a instalação de prateleiras de livros em pequenos comércios.
O poeta diz que é gratificante a receptividade das pessoas que não tem condições para comprar os livros e chegam nos pontos de ônibus e encontram as cestas com os exemplares e começam a descobrir a leitura através de assuntos que lhe interessam. "Você não tem acesso e no ponto de ônibus de repente você está ali e olha uma capa que te interessa e você começa a folhear a se acostumar com o livro. Tem muita gente que fica tímido, quem não conhece ainda, mas os que já se acostumaram vão lá e pegam mesmo. De repente, também param os ônibus e os motoristas já perguntam se tem um determinado livro."
Binho ressaltou que recentemente se surpreendeu e ficou emocionado ao descobrir que a oferta de seus livros foi a base para que um dos leitores chegasse a universidade.
"Depois de dois anos fazendo o projeto nos pontos, eu encontrei um rapaz em um evento que estávamos fazendo e ele veio me agradecer, porque os livros que ele tinha encontrado no ponto de ônibus tinham o ajudado a entrar na faculdade. Isso valeu toda essa ação."
A falta de patrocinadores não deixa Binho parar de sonhar. Em breve o poeta pretende ampliar cada vez mais a distribuição de livros. Para isso Binho e Suzi vão estrear uma nova ação: a "Kombiblioteca". "Nós arrumamos uma Kombi, que seria a nossa Kombiblioteca, onde vamos ampliar a nossa divulgação e a arrecadação dos livros. Queremos ampliar esse processo da circulação dos livros e poder fazer encontros com a própria literatura."
Ao ser questionado sobre o significado de uma foto nas suas redes sociais, onde veste uma camisa com a frase "Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo", o poeta diz que cada vez mais quer ser uma andorinha para contagiar as pessoas para a leitura. "Que cada um seja essa andorinha acordando o bando todo e fazendo a sua parte e espetando também outras pessoas. Quem lê vai gostando mesmo e vai contagiando os outros."
Descubra um pouco mais sobre o projeto Livro no Ponto, no vídeo abaixo.