As delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht envolvem ao menos 415 políticos de 26 dos 35 partidos legalmente registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O PT lidera a lista, com 93 citados, seguido de perto pelos dois principais partidos que dão sustentação ao Governo Michel Temer, PSDB e PMDB, cada um com 77 membros citados.
A questão atual, diante de tais fatos, é saber o que se pode concluir da divulgação da Lista de Fachin (o Ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal), na qual são citados o atual presidente da República, Michel Temer, e cinco ex-presidentes (José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff), além de vários ex-candidatos à Presidência.
O cientista político Antônio Marcelo Jackson, do Departamento de Educação e Tecnologias da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, entende a questão como resultado do chamado presidencialismo de coalizão. Falando com exclusividade à Sputnik Brasil, o Professor Jackson destaca a crítica que faz ao modelo político que nós temos no Brasil.
"Se você parar para pensar", diz Antônio Marcelo Jackspn, "todos os presidentes que aparecem na lista citada são da era do presidencialismo de coalizão. Eu não estou dizendo aqui que não havia corrupção antes do presidencialismo de coalizão. Lamentavelmente, isso existe. Existiu na ditadura militar e existiu em vários outros momentos. Agora, com certeza, a partir do momento em que você tem uma nova fórmula de poder no país, em que o presidente da República, o chefe do Poder Executivo, é obrigado a negociar o tempo todo com o Poder Legislativo para tomar, praticamente, todas as decisões administrativas de que o país precisa, isso significa que de duas, uma: ou nós teremos pessoas com espírito público ilibado, ou seja, nós teremos 513 deputados (isso a contar a partir de 1990) e 81 senadores como pessoas íntegras (sempre pessoas íntegras), no sentido mais absoluto do termo, ou então estaremos lidando com um grupo de pessoas que, conforme o interesse delas, as negociações irão começar a ultrapassar os limites que Maquiavel colocou há 500 anos sobre as relações políticas, e começar a transitar em terrenos pantanosos, em que nós vivemos esses anos todos."
"Ou seja", conclui Antônio Marcelo Jackson, "se eu tenho uma situação em que o presidente deve tomar uma decisão – e para isso ele necessita do apoio de uma base parlamentar, e se esta base for composta por pessoas que não estejam tão interessadas assim no bem-estar público – e se por outro lado o presidente da República entenda isso como parte do jogo político e não denuncie isso ao meio público e à população, o resultado é esse que nós temos hoje. Eu me surpreendo até com o número pequeno de políticos envolvidos [nas denúncias de corrupção]."
Em relação ao futuro de Michel Temer, diante da gravidade de tais denúncias, ele mesmo definiu o que está acontecendo e poderá acontecer, em entrevista concedida nesta segunda-feira, 17, à Rádio Jovem Pan, de São Paulo. Disse o Presidente Michel Temer:
"O efeito das delações [nas quais ele é citado] é desagradável porque se trata de uma mentira. Tenho procurado dizer que é desagradável e constrangedor porque se trata de inverdade. Os fatos narrados revelam inclusive uma linguagem que não uso. São eventos estarrecedores, desagradáveis e preocupantes porque transmitem imagem muito negativa do Brasil no exterior. Sob esse ângulo não há dúvida de que é péssimo. Mas eu pergunto: O que fazer? Paralisar as atividades ou seguir em frente? Eu respondo: Seguir em frente."
Em relação ao fato de 8 ministros do seu Governo estarem sendo investigados, Michel Temer reafirmou o que tinha dito há algumas semanas: enquanto não houver denúncia, os ministros serão mantidos no cargo (a não ser que peçam demissão); se houver denúncia pelo Ministério Público Federal, os denunciados serão afastados temporariamente; e se o Supremo Tribunal Federal receber as denúncias e os transformar, automaticamente, em réus, eles serão sumariamente exonerados.