A opinião de José Botafogo Gonçalves foi manifestada em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a propósito da informação divulgada pelo embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, de que ainda este ano Donald Trump receberá nos Estados Unidos o Presidente Michel Temer, provavelmente no mês de setembro, quando acontece em Nova York a tradicional Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).
Seria uma tentativa de reaproximação dos Estados Unidos com o Brasil após um período de distanciamento verificado nos Governos do PT com os Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff? Para o Embaixador José Botafogo Gonçalves, a questão não pode ser colocada nestes termos:
"Eu não diria que a expressão 'tentativa de reaproximação' seria a mais descritiva do atual nível de relações entre Brasil e Estados Unidos. As relações entre os dois países sempre foram muito intensas, tanto na área do comércio quanto na área cultural e quanto na política também. Os Estados Unidos sempre foram um dos mais importantes parceiros do Brasil. O que aconteceu nos últimos anos foi, efetivamente, uma deterioração das relações políticas em função de visões ideológicas diferentes de como o mundo se organizava. De um lado, o regime mais liberal e intervencionista de Barack Obama, e de outro o regime de Lula e, sobretudo, o de Dilma, mais isolacionista e mais antiamericano. Esse quadro mudou porque quase toda a América Latina – e quase toda a América do Sul, em particular – está voltando para suas posições de centro e, em alguns casos, de centro-direita. Isso, naturalmente, influi na relação política bilateral."
O Embaixador José Botafogo Gonçalves acrescenta que "a eleição do Trump embaralhou as cartas".
"Ninguém sabe, até hoje, qual é a política externa que Trump vai adotar", considera o diplomata. "Ele tem tomado iniciativas isoladas, erráticas, mas ainda sem uma consistência programática. O encontro entre os dois presidentes vai selar, digamos assim, uma aproximação que já vem ocorrendo de fato. Eu acho que é uma atitude positiva, que será benéfica para as relações bilaterais e que terá impacto nas relações hemisféricas."
Ex-secretário de Cooperação Econômica e Técnica Internacional da Presidência da República e ex-vice-presidente de Relações Externas do Banco Mundial em Washington, entre os anos de 1985 e 1987, José Botafogo Gonçalves não acredita que o convite de Donald Trump para Michel Temer possa embutir alguma forma de abalar o relacionamento do Brasil com a Rússia, neste período em que se acentuaram as divergências entre os Governos da Rússia e dos Estados Unidos:
"Não creio que o convite de Donald Trump a Michel Temer para uma conversa nos Estados Unidos tenha algum propósito, ainda que subjetivo, de interferir no relacionamento do Brasil com a Rússia. As relações do Brasil com os Estados Unidos estão indo bem, não há nenhum problema grave entre os dois países, mas, do ponto de vista da política externa norte-americana, o Brasil é um país marginal, é um país que está longe dos focos de tensão e das áreas prioritárias dos Estados Unidos."
"Graças a Deus, aliás", acrescenta o embaixador, que conclui:
"As decisões que o Presidente Donald Trump venha a tomar em relação à Rússia não estarão afetadas por um posicionamento do Brasil nesse contexto. O Brasil tem uma relação, no BRICS, com a Rússia, com a Índia, com a China e com a África do Sul, muito mais derivada do seu tamanho do que de objetivos políticos comuns. Na verdade, a política externa brasileira não tem nada a ver com a política externa russa, com a política externa chinesa, com a política externa indiana e com a política externa da África do Sul. De modo que, nesse campo, as relações políticas do Brasil com os Estados Unidos são relativamente marginais."