As porcentagens levantadas por pesquisas nesta semana apontam para uma votação em torno de 60% para Macron, o que colocaria um ponto final nas ambições presidenciais da líder da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen.
Há quem cite os exemplos do Brexit e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos para pedir prudência em previsões a favor de Macron. Entretanto, a possível certeza repousa na própria característica dos franceses: embora orgulhosos das suas origens (o que poderia tender ao nacionalismo), costumam adotar o pragmatismo do “Le mieux est l'ennemi du bien” (“o melhor inimigo é o do bem”). A rejeição aos tradicionais socialistas e conservadores só reforça que a ordem é ir pelo “menos pior”.
Tão logo confirmada, a eleição de Macron trará um alívio ao fatalismo que ronda o pleito francês, já que Le Pen é favorável à saída da União Europeia (UE). Já o virtual próximo presidente francês é um globalista amplamente favorável à fortificação do bloco. Confirmado o resultado esperado, será um alívio para a primeira-ministra alemã Angela Merkel, outra a brigar pela manutenção do bloco.
Membros-fundadores em 1950 da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (ao lado de Bélgica, Itália, Luxemburgo e Holanda), que viria a dar origem à EU, Alemanha e França sempre foram tidos como os grandes alicerces do bloco, criado não só por questões econômicas, mas também por buscar manter a estabilidade e remediar tensões políticas que haviam levado a duas guerras de amplas proporções em solo europeu.
No presente, os dois países buscam manter o mesmo tom de apoio, mas há rusgas. O presidente francês François Hollande nunca escondeu o desgosto pela forma com que Merkel conduziu, por exemplo, a crise dos refugiados. Voltando ao virtual eleito, ele quer retomar o mais alto nível das relações com os alemães. E é aí que a conversa entra nas reformas.
“[A França] precisa assumir suas responsabilidades e realizar reformas. Apenas depois disso eu espero que [a Alemanha] fique mais próxima. Se você quer ter credibilidade, você precisa cuidar dos negócios em casa. Essa é a chave para restabelecer a confiança que não existe mais”, afirmou Macron em março, durante a sua passagem por Berlim – com direito a um encontro com Merkel.
Macron defende uma reforma liberal da economia francesa, e a sua agenda passa por melhorar a eficiência laboral do país – reformas de cunho trabalhista são sempre espinhosas. A ideia é aproximar a França da Alemanha em caráter econômico e fiscal, dando um novo empuxo ao motor franco-germânico que sempre conduziu as ações do bloco europeu.
Ele terá sérias dificuldades de antemão, sobretudo pelo avanço da direita pelo país. Embora muito provavelmente derrotada na eleição presidencial, a FN tende a fortalecer a sua posição nas eleições para o Legislativo francês, marcadas para junho. Se não conseguir formar uma base sólida de apoio, Macron pode ter problemas em seu intuito.
A virtual vitória do candidato do movimento independente Em Frente! também já coloca pressão sobre Merkel – ela própria terá de tentar em setembro o seu quarto mandato para conduzir a Alemanha, tendo a hoje como maior ameaça os sociais-democratas. Se a França cumprir o seu dever de casa reformista, o próximo passo será buscar melhores condições na relação interna do bloco.
Há um forte indicativo de que Macron buscará algo que o bloco todo parece concordar – a necessidade de reformar e restabelecer a confiança no euro –, mas também maior integração em temas como imigração e defesa. E ele não deve esperar o pleito alemão para tomar a iniciativa em certos assuntos que podem causar incômodo aos alemães, donos da maior economia do bloco e principais beneficiados, mesmo em tempos de crise.
Qual será o modelo de reforma para a UE? Conseguirá Macron impor a sua ideia de que o bloco possua um orçamento conjunto e um ministro das Finanças, algo que não gera entusiasmo em Berlim?
A ideia de um bloco que seja mais igualitário e que divida de maneira mais uniforme os benefícios econômicos certamente não terá entusiasmo de Merkel ou do seu sucessor, sobretudo pela medida parecer, para os alemães, apenas uma maneira de “transferir fundos” para países muito endividados, como Itália e Grécia. É algo que, por sua vez, pode levar a uma pressão extra ao Banco Central Europeu, que poderia ser levado a aumentar a taxa de juros e desenrolar a compra de títulos que, por fim, dificultaria a manutenção dos custos dos empréstimos em níveis mais baixos.
Tecnicalidades a parte, a ação com velocidade por reformas dentro e fora de casa parece ser uma prioridade para Macron, tão logo assuma a França. Para os alemães o senso de urgência tende a não ser o mesmo. Mas haverá pressão para Merkel (ou quem vier depois dela) fechar um acordo com os franceses, uma vez que a ameaça populista aparenta estar se dissipando na Europa. Já os problemas, ainda não.