“Eu vi muitos dos meus vizinhos morrerem de fome, incluindo a minha mãe e uma das minhas irmãs mais novas”, relembrou Song, em entrevista publicada nesta quinta-feira ao jornal britânico The Independent.
Sem contato com nenhum parente ou amigo norte-coreano, o artista afirmou que cresceu como qualquer cidadão norte-coreano: fiel à liderança do regime comunista local. Foi assim por praticamente os 30 anos em que viveu na Coreia do Norte.
Ele trabalhou na área de propaganda oficial do governo norte-coreano, na qual era necessário seguir ordens muito precisas do que deveria ser produzido e levado a público. A sua atividade envolvia produzir cartazes e slogans de interesse da família Kim, que conduz o país há mais de 50 anos.
“Enquanto crescia eu trabalhava duro para mostrar minha lealdade ao governo e provar que eu poderia ser útil. Naquela época, eu acreditava que nosso líder era o melhor homem do mundo, como um deus. Nós fomos educados para pensar que eles [a família de Kim] eram as melhores pessoas e sem eles, nós não poderíamos manter nosso país”.
Tudo mudou nos anos 1990, quando a Coreia do Norte teve sérios problemas para produção de alimentos para a sua população. Estima-se que três milhões de pessoas morreram na época por conta da crise. Song perdeu parte da família justamente por conta disso.
“Como um adolescente na Coreia do Norte, eu me lembro de pessoas morrendo de fome. Muitas crianças perderam suas famílias e acabaram vivendo nas ruas. Não havia comida para comer. Eu não conseguia dormir da fome”, comentou o desertor norte-coreano.
Na tentativa de fugir do país, Song perdeu o pai e acabou preso, tendo sofrido com torturas ao longo de seis meses na prisão. Foi solto em uma leva de prisioneiros liberados para que “morressem em casa”, já que muitas mortes estariam sendo registradas na própria cadeia e os agentes de segurança não queriam mais trabalho com isso.
Decidido a sair da Coreia do Norte, o artista conseguiu cruzar a fronteira com a China, e de lá seguiu para a Coreia do Sul, onde vive atualmente da sua arte e das denúncias a respeito do regime norte-coreano. Ele não deixa de lamentar, porém, não poder ter contato com nenhum parente ou amigo que ficou no país.
“É muito perigoso agora entrar em contato com alguém que conheço na Coreia do Norte. Também é caro – eu ouvi corretores cobrar 1000 euros (R$ 3,4 mil) para passar mensagens”, revelou à publicação. Se alguém dentro de território norte-coreano fosse descoberto em contato com Song, correria o risco de prisão e tortura, segundo o artista.