A decisão unilateral de suspender o envio desses profissionais se deu, no mês passado, com o descontentamento do governo cubano face ao aumento das decisões da Justiça brasileira de conceder permanência no Brasil dos médicos cubanos. Nos últimos meses, foram 89 decisões nesse sentido. Agora, a intenção do governo brasileiro é restabelecer o programa no menor prazo possível.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o cardiologista Waldir Cardoso, presidente da Federação Médica Brasileira (FMB), diz que o programa, criado em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff, atendeu em parte seu objetivo: o de prestar assistência a populações de áreas remotas que carecem de assistência médica. Apesar disso, Cardoso alerta que o programa não resolve os problemas de saúde do país e cria outros. Na opinião do presidente da FMB, os médicos do programa muitas vezes não possuem determinadas especialidades e, além disso, foram isentos da revalidação dos diplomas, a avaliação de seus conhecimentos, como é rotina em vários países, como no Brasil, através do programa Revalida.
"O programa responde a essa demanda parcialmente porque leva profissionais cubanos e de outras nacionalidades para essas regiões, embora não garanta que esses profissionais tenham a qualificação adequada para atender a nossa população", diz Cardoso, admitindo que a não revalidação cria um certo sentimento de ciúme por parte dos colegas brasileiros.
O presidente da FMB está convencido de que o Brasil não necessita de médicos estrangeiros para cumprir os vazios assistenciais. Segundo ele, hoje são formados por ano no país 20 mil novos médicos a partir do aumento exponencial das faculdades de Medicina, que já somam 279 em todo o país.
s"O convênio que será reiterado com Cuba através da OPAS talvez perca o objeto. Neste sentido, há um compromisso do Ministério da Saúde, firmado com as entidades médicas, de que as próximas vagas que serão abertas serão oferecidas a médicos brasileiros titulados nos conselhos de medicina. Nossa expectativa é que possamos, com esses profissionais, oferecer o melhor atendimento médico à população destas regiões tão necessitadas", afirma Cardoso.
Quanto á alegada falta de interesse de jovens médicos em clinicarem em cidades do interior, o presidente da FMB diz que tão importante quanto à remuneração é o tipo de vínculo que eles terão com os hospitais públicos. Sem um contrato adequado que ofereça segurança para mudança e o estabelecimento de vida no local, com um mínimo de conforto material, é compreensível que muitos jovens médicos pensem duas vezes antes de aceitar o novo desafio.