Castro Neves, que falou com exclusividade à Sputnik Brasil sobre as expectativas em relação ao One Belt, One Road, evento que começa neste domingo na capital chinesa e que vai debater detalhes da implantação do projeto do governo chinês, que visa à construção de uma ampla área de prosperidade que englobará 60% da população mundial e 25% do comércio global de bens e serviços.
Castro Neves ressalta a importância do projeto, que complementa outro anterior, o da Organização da Cooperação de Xangai, firmado em 2001, e que reúne China, Rússia, Cazaquistão Tajiquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Afeganistão, Índia, Irã, Mongólia e Paquistão. Já o TPP vive um período de paralisia, uma vez que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva para iniciar a saída do país do tratado. Sem a presença americana, o tratado perde perde totalmente a força, na opinião da maioria dos analistas.
O TPP foi assinado em 2015, mas não chegou a entrar em vigor. Ele previa a liberação do comércio de serviços, como engenharia de software e consultoria financeira. A administração Obama o considerava como o melhor tratado possível porque inclui não só a eliminação de barreiras comerciais, como também de normas sobre legislação trabalhista, ambiente, propriedade intelectual e compras estatais. O tratado foi firmado por 12 países: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura, Estados Unidos e Vietnã, que representam 40% da economia mundial e um terço do comércio global.
Para Castro Neves, a indefinição do TPP facilita a ofensiva chinesa com o Cinturão Econômico da Rota de Seda.
"Isso deixa o caminho mais ou menos livre para a China seguir adiante com o seu One Belt, One Road, a integração de uma plataforma produtiva da Ásia com a economia mundial. A retirada dos EUA do TPP abre caminho para a China fazer uma inserção mais inequívoca na economia mundial, o que, aliás, foi demonstrado pelas declarações do (presidente) Xin Jin Ping em Davos, onde ele foi a estrela (do encontro)", opina Castro Neves.
Para o embaixador brasileiro, a Organização da Cooperação de Xangai tem mais um aspecto de política e segurança, enquanto o One Belt, One Road é mais econômico, comercial e de investimento. Com relação a possíveis vantagens dos BRICS no novo cinturão econômico, Castro Neves diz que o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sulm ainda não encontrou sua vocação.
"O centro de gravidade dos BRICS está na Ásia: China, Índia e Rússia. A única iniciativa concreta dos BRICS, que foi o Novo Banco de Desenvolvimento, ainda está na sua fase de organização, o executivo maior é um chinês e um hindú, e ele compete com o Banco Asiático de Investimento", diz.
Para o Brasil, Castro Neves afirma que a constituição do Cinturão Econômico da Rota da Seda acena com boas possibilidades de negócios, desde que o país "faça seu dever de casa", as reformas necessárias, como a trabalhista e a da Previdência, e modernize a economia brasileira para que ela possa se integrar de forma competitiva no cenário global.