Em entrevista à Sputnik, Braga afirma que a geração de 59.865 postos formais em abril, conforme divulgado nesta terça-feira pelo Ministério do Trabalho, pode parecer um número insignificante frente aos 14,2 milhões de desempregados ao fim do primeiro trimestre. O desemprego vem em escalada crescente desde o ano passado. Só no último trimestre de 2016 eram 13 milhões. Ainda assim, o especialista chama a atenção para o fato de que abril marca o segundo mês consecutivo em que a criação de empregos com carteira superou o número de demissões.
Dados como o do Índice do Banco Central (IBC-BR) do primeiro trimestre apontam um avanço de 1,2% da economia de janeiro a março deste ano. O IBC-BR é considerado no mercado como uma projeção bastante confiável do Produto Interno Bruto (PIB), que será divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 1º de junho. Caso se confirme a projeção do BC, o desempenho positivo da economia no primeiro trimestre vai interromper uma sequência de oito trimestres consecutivos de desempenho negativo da economia. Para o professor, a recuperação, contudo, ainda é muito tímida frente ao encolhimento da economia nos últimos dois anos.
"Quando a gente diz que a economia já está se recuperando e os sinais são visíveis, isso não significa que vamos viver um boom econômico. Nenhum especialista espera ou projeta um cenário de grande expansão e que todos os nossos problemas estão resolvidos. A gente vai demorar algum tempo para recuperar o que encolhemos", afirma Braga, se referindo às últimas projeções da pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central com as 100 maiores instituições financeiras do país, que aponta uma alta do PIB de 0,48% no fim do ano.
Com relação à taxa básica de juros, Braga explica que ela começou um processo de encolhimento justamente devido à perda de fôlego dos índices de inflação. Ele atribui também à mídia um papel importante na divulgação de números preocupantes da política e da economia, o que levou a população a ficar mais cautelosa com o consumo, reduzindo a busca por crédito diante do temor do desemprego.
"O consumidor com dinheiro se acautelou e evitou gastos e se endividar. Temos ainda índices de desemprego crescentes, três governos estaduais falidos, inclusive o do Rio de Janeiro, o que também desacelera o funcionamento econômico. Entramos no chamado círculo vicioso onde um elo da cadeia econômica está interligado a outro e todos no sentido do encolhimento. Quando se observa como agora um movimento contrário, ele é a inflexão da curva que vinhamos fazendo, e percebemos nos últimos meses, o que chamamos de desaceleração do mal. Batemos no fundo do poço e vamos começar a subir, mas não uma ladeira vertiginosa", observa Braga.
Quanto ao início da geração sustentada de empregos formais, o especialista prevê que o ciclo só começará no terceiro ou quarto trimestre deste ano. A razão para isso, segundo ele, é que mesmo quando a economia já dava sinais de deterioração, o emprego foi um dos últimos a ser afetado. Por essa razão, também agora ele será um dos últimos a mostrar recuperação. Na ótica de Braga, inversões no movimento de desemprego levam, em média, seis meses para serem notadas.
"O empresário demora a fazer demissões, porque o custo de demitir, do ponto de vista de encargos sociais, é alto.Quando ele demite um trabalhador especializado, a necessita de repor custa muito caro, porque você tem que, normalmente, retreinar essa pessoa", finaliza.