A Casa Branca tenta apresentar esta viagem como "histórica": Trump visitará países de três religiões [islâmica, judaica e católica] e se dirigirá ao mundo muçulmano. Mas esta digressão, frente ao ambiente agitado nos EUA, mais parece uma fuga, escreve a analista Veronika Krasheninnikova. Para além disso, os funcionários da Casa Branca temem que um presidente pouco experiente e que não controla seu discurso possa dizer algo inapropriado e provocar algum escândalo internacional.
Mas nada pode esconder as iniciativas político-militares que os generais americanos estão tentando realizar por meio do presidente, diz a especialista russa.
A seriedade das intenções dos EUA é comprovada pelo enorme pacote de acordos na área de armamentos que Trump tenciona apresentar em Riad. Assim, Trump levanta dos sauditas todas as restrições militares: o fornecimento de armas havia sido suspenso na presidência de Obama, inclusive por causa do número de vítimas civis no Iêmen. De acordo com representantes oficiais americanos, as vendas de armas contribuirão para a modernização profunda do Exército e Marinha sauditas.
O valor de 350 bilhões de dólares [suposto montante do total de venda de armamentos que pode ser atingido em 10 anos] equivale a sete orçamentos militares anuais da Rússia. Isto não pode ser apenas para a guerra da Arábia Saudita no Iêmen. Este dinheiro é destinado para uma guerra muito grande no Oriente Médio. Primeiro será Assad, depois se seguirá o Irã, considera Krasheninnikova.
Herbert MacMaster, conselheiro de Segurança Nacional, declarou que o objetivo principal de Trump é ajudar aos parceiros islâmicos dos EUA a avançarem no combate ao terrorismo e aos que "desde o Daesh e a Al-Qaeda, passando pelo Irã e o regime de Assad, espalham o caos e a violência".
"É assim que na Casa Branca vêm a ameaça: a Al-Qaeda, o Daesh, o Irã e a Síria alinhados na mesma frase ", comenta a analista russa a declaração do conselheiro.
A ideia de criação da "OTAN árabe" pairava entre políticos e militares há anos. A necessidade de criar uma aliança parecida ficou mais forte quando a OTAN "europeia" começou a perder o interesse pelas guerras norte-americanas.
"Que tudo isso pode significar para Rússia?", pergunta Veronika Krasheninnikova e aponta uma série de ameaças que a criação da "OTAN árabe" pode provocar, entre elas o poder crescente dos países árabes patrocinadores do terrorismo, com o aumento da quantidade de armas, e o fato de os verdadeiros planos desta "aliança" ainda não serem claros.
Respondendo à questão sobre o que a Rússia precisa fazer, a analista política escreve que está na hora de parar de acreditar no palavreado vazio de Trump e começar a entender que ele, com seus generais, é uma ameaça direta. No entanto, conclui Veronika Krasheninnikova, mesmo se Trump deixar o cargo, a ameaça permanece, pois o objetivo principal de Trump era fazer sair o gênio da garrafa, o que ele quase conseguiu.