O país passou a ser bem visto internacionalmente nos últimos 15 anos, como um ponto de recomeço para aqueles que tiveram de abandonar as suas nações por uma chance de recomeço. Não por acaso, o número de solicitações cresceu mais de 2.868% entre 2010 e 2015 – de 966 solicitações em 2010 para 28.670 em 2015.
Entretanto, os desafios são muitos uma vez em solo brasileiro. A falta de assistência é recorrente e as iniciativas de apoio que existem costumam se destacar. Uma delas está localizada no Espírito Santo.
Lá está situado o Nuares (Núcleo de Apoio aos Refugiados no Espírito Santo), que existe desde 2004. O núcleo de extensão e pesquisa funciona dentro da Universidade de Vila Velha (UVV) e é reconhecido como um dos melhores no acolhimento e apoio no país.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a professora de Mestrado em Sociologia Política da UVV, Viviane Mozine revelou um pouco da rotina diária no Nuares, que ela também ajuda a coordenar.
“É normal ele [refugiado] chegar só com a roupa do corpo, sem documentos e relatando as dificuldades para chegar aqui no Espírito Santo. Normalmente ninguém chega de avião, muitos vêm de ônibus, a pé, de carona, e costumam vir porque ouviram que teriam apoio ou que aqui a situação está melhor”, contou.
Acolhimento
Uma vez que esteja no Nuares, o refugiado recebe acompanhamento junto à Polícia Federal (PF), para a solicitação de refúgio e outros documentos como a carteira de trabalho, e também tem a sua saúde avaliada. Por fim, há o apoio psicológico e um dos mais importantes: as aulas de português, já que a maioria não fala o idioma ao chegar no Brasil.
“Acho que o que a gente faz aqui se baseia na solidariedade humana. O Brasil integra um acordo internacional para receber bem essas pessoas, então não fazemos nada mais do que o nosso papel. Ou seja, receber bem que foge da guerra e da intolerância”, disse Viviane.
Mesmo com todo o acolhimento e apoio, os refugiados ainda enfrentam um desafio final: a integração com a sociedade, que muitas vezes expõe o seu preconceito contra aqueles que chegam ao país para reconstruir a vida. A coordenadora do Nuares crê que iss é fruto do desconhecimento da população.
“É um desconhecimento porque o refugiado teme pela sua vida. Ele fugiu do seu país por perseguição, por ameaça, e a maioria das pessoas não consegue entender e classifica o refugiado como um clandestino, um migrante econômico. Embora o tema tenha se tornado mais debatido na mídia, ainda há esse desconhecimento. É importante informar”.
O Nuares aceita colaborações e voluntários. Estas e outras informações podem ser encontradas na página oficial do núcleo no Facebook.