Em entrevista à Sputnik, Haddad afirma que o governo Temer já era um governo fraco quando assumiu o poder.
"O impeachment da presidente Dilma foi de certa maneira forçado, uma vez que as alegadas pedaladas também aconteceram em outros governos. O impeachment tanto aqui quanto nos Estados Unidos e em outros países é muito mais político do que jurídico. O presidente Temer já assumiu com grande parte da oposição brasileira e, depois do aparecimento de indícios de envolvimento, ficou mais fraco ainda", opina.
Na avaliação de Haddad, o Brasil pode até resistir a dois anos seguidos de impeachment, mas será um sacrifício muito grande.
"Nossa economia está em petição de miséria, o desemprego muito alto, os estados muitos deles falidos, a criminalidade crescendo, morrem mais pessoas no Brasil do que na Síria. O presidente Temer teria que ter uma atitude de grandeza e renunciar. Aí os partidos fariam um pacto no sentido de eleger um ministro do Supremo Tribunal Federal que governasse com um gabinete multipartidário com uma linha de centro até as eleições de 2018. Não vejo muita utilidade em se fazer eleição daqui a alguns meses porque o país está muito radicalizado", afirma o desembargador.
Haddad observa que o sistema presidencialista brasileiro foi inspirado no dos EUA, por isso o programa do presidente tem que ser seguido pelo vice.
"Quando o povo vota não escolhe apenas pessoas, mas também um programa de governo. Com a assunção de Temer, praticamente foi revogado tudo proposto pelo governo anterior do qual ele fazia parte e adotando a mesma linha política do então candidato adversário, o senador Aécio Neves (PSDB-MG)", opina o desembargador aposentado TJ-RJ. Para ele, as reformas trabalhista e da Previdência deveriam ser feitas por um governo eleito, ouvindo mais tanto os sindicatos de empregados quanto os patronais.
Haddad aponta o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na primeira semana de junho, como a possibilidade de ser a via mais rápida para o afastamento de Temer.
"Se houve abuso de poder econômico na eleição de 2014, isso se estende também ao vice-presidente. Temos o voto vinculado. Já passou o tempo em que se podia votar separadamente para presidente e vice-presidente. Entendo que seria melhor para o país se o TSE decidisse pela anulação da eleição. O ideal é que essa crise seja resolvida a curto prazo e que o Brasil fique na normalidade sob o governo interino até que em novembro de 2018 o povo faça sentir sua palavra, diz Haddad, apontado os nomes do ex-ministro Nélson Jobim, o do ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa, dos ex-ministros da Corte Carlos Velloso e Ayres de Britto, bem como o da atual presidente, ministra Carmen Lúcia, como boas opções para conduzir a presidência em mais um período de interinidade.