No domingo, o primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, ressaltou na conferência internacional de segurança, Shangri-La Dialogue, entre ministros e comandantes da Ásia-Pacífico, que os países da região não podem continuar contando com defesa de grandes potências.
"Temos que assumir a responsabilidade por nossa segurança e prosperidade, reconhecendo, ao mesmo tempo, que somos mais fortes quando partilhamos o fardo da liderança comum com parceiros confidentes e amigos", disse.
O jornalista britânico, Martin Jacques, pesquisador e autor do bestseller internacional When China Rules the World: The End of the Western World and the Birth of a New Global Order (Quando a China domina o mundo: o fim do mundo ocidental e o nascimento da nova ordem global), disse à Sputnik Internacional que com a retirada de Trump da Parceria Transpacífico e a exigência que países como Japão e a Coreia do Sul deem mais atenção à sua própria defesa, surgiram mais preocupações.
"Até hoje, a diferença mais notável se trata da saída dos EUA da Parceria Transpacífico, que sem dúvidas foi uma criação da administração de Obama, sendo este o sinal mais claro por enquanto", disse Jacques.
As mudanças na situação geopolítica na Ásia, com a China aumentando sua influência e os EUA perdendo, é uma consequência das mudanças econômicas de longo prazo, explicou o especialista.
"Este é um processo mais longo do que [o mandato] de Trump, sendo muitas vezes mal interpretado no Ocidente. O que estamos vendo há muito tempo, com a expansão da China, é que ficam cada vez mais estreitas as relações econômicas entre a China e quase todos os países na Ásia Oriental, e cada vez mais fracas entre os últimos e os EUA", acrescentou.
"Desde as ações do [presidente Rodrigo] Duterte nas Filipinas, percebemos um desvio na região rumo à China. Acho que a política norte-americana no Sudeste Asiático, lançada por Obama, fracassou e que a parceria entre a China e os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático [ASEAN, sigla em inglês], está crescendo", opinou o jornalista.
"A Tailândia era uma espécie de aliado formal [dos EUA], mas agora tem relações mais próximas com a China do que tinha com Washington, então estes países estão gravitando, principalmente por razões econômicas, mas não só, rumo à China", sublinhou.
É muito provável que estas relações sejam diferentes das relações entre EUA e seus aliados na Ásia. Enquanto Washington busca aliados na área militar, a China está mais focada nos laços econômicos, disse Jacques.
O Sudeste Asiático é uma região muito importante para a China, que vem constantemente melhorando suas relações com os países da região.
No entanto, as relações com o Japão, com a Coreia do Sul e com Taiwan no Nordeste da Ásia são "muito mais problemáticas", mesmo a China desejando criar os melhores laços possíveis.
"A longo prazo, acho que a China se tornará uma potência global. Seu crescimento econômico permanece extraordinário, sendo mais rápido do que se pensava, com o declínio dos EUA acontecendo mais rápido do que muitos haviam previsto", concluiu.