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Racismo no Brasil continua uma hidra de várias cabeças

© Fellipe Sampaio/STF/Fotos PúblicasEx-ministro Joaquim Barbosa diz que não vai comentar o caso
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Uma simples frase de boa-vinda esta semana no Judiciário acabou revelando o quanto o racismo continua forte no Brasil. Ao receber o ex-ministro Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luis Roberto Barroso saudou o colega como um"negro de primeira linha".

No dia seguinte, em plenário, Barroso se retratou pela "frase infeliz", e disse não ter tido a intenção de ofender ninguém. "Não há brancos ou negros de primeira linha, porque as pessoas são todas iguais em dignidade e direitos, sendo merecedoras do mesmo repeito e consideração", disse Barroso, explicando que usou a expressão "primeira linha" em relação a uma pessoa "que havia rompido o cerdo da subalternidade, chegando ao topo da vida acadêmica".

Apesar da retratação, a saudação continuou repercurtindo nos movimentos sociais que lutam em defesa dos afrodescendentes no Brasil.

"É nessa estrutura de discurso que o racismo vai se perpetuando, o discurso trai até mesmo quem tem atitudes politicamente corretas, e trai porque a linguagem está no inconsciente. É preciso que a gente reconheça a existência dessas relações baseadas nos preconceitos que desqualificam, depreciam e reforçam estigmas e estereótipos. Quando ele fala em 'negro de primeira linha', ele coloca toda sua surpresa por uma pessoa que está no centro de destaque, e revela o que de verdade sente, uma superioridade em relação aos negros", analisa Viviane Gomes, integrante da ONG Criola.

Devido a frases como essa, Viviane afirma que é por isso que se enfrentam tantas lutas, como para exigir respeito à ancestralidade, cultura, história e valores.

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"A gente luta para reverter essa fala que nos desqualifica a todo momento. Quando nosso talento é reconhecido, você vê imediatamente uma relação de raça como se fosse algo surpreendente ser negra e talentosa, e aí vêm os discursos das boas intenções: 'A menina é negra, bonita, muito inteligente. É escura, mas extremamente honesta. A nossa capacidade, nossa inteligência estão sendo sempre questionadas. As jovens estão passando por isso na universidade, no mestrado, no doutorado. Tem que fazer sempre o dobro do que é pedido para comprovar nossa capacidade e nosso merecimento de estar lá", desabafa, lembrando que esse preconceito também é visível quando parte da sociedade associa a religiosidade africana a cultos demoníacos.

Viviane observa, porém, que, depois de tantas tentativas de extermínio do povo negro, a luta continua em memória de tantos jovens negros assassinados pelo Estado e das mulheres negras vítimas de mortalidade materna.

"Os nossos avanços, as cotas, a lei do trabalho doméstico, as condenações do Brasil em cortes de direitos humanos com relação às mulheres negras, a gente está estudando, está nas universidades, indo além da pós-graduação. O que incomoda é que somos a primeira linha da resistência, da luta por direitos, por igualdade, liberdade, do direito à vida, porque fomos nós que fizemos essa pauta. A gente não está mais engolindo o mal entendido", conclui Viviane.

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