Atlântida argentina: a vila Epecuén que ressurgiu das águas (FOTOS, VÍDEOS)

© Foto / Oleg VyazmitinovEpecuén, a vila inundada
Epecuén, a vila inundada - Sputnik Brasil
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Na década de 1980, uma lagoa inundou uma cidade inteira na província de Buenos Aires. Após permanecer submergida durante quase 30 anos, durante um período de seca a povoação ficou descoberta e hoje em dia atrai milhares de turistas que passeiam entre suas ruinas misteriosas.

As ruinas da vila de Epecuén ficam a 600 quilômetros de Buenos Aires. Passeando entre muros destruídos e antigos hotéis vazios e devastados, uma pessoa pode ter a impressão de ter havido uma explosão atômica a poucas horas da capital argentina. No entanto, foi a natureza que engoliu esta povoação litorânea de 1.100 habitantes que durante décadas atraiu milhares de turistas para aproveitarem suas águas termais e salinas.

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Epecuén, a vila inundada

Só nos últimos anos o mundo ficou sabendo da existência desta cidade fantasma. Aquele lugar, que em 1985 se tornou famoso pelas imagens catastróficas de destroços e até caixões flutuando, hoje é cenário de filmes e uma atração turística. O vídeo publicitário do energético Red Bull, com o ciclista Danny MacAskill caminhando entre os destroços, trouxe à vila fama mundial.

Durante vários séculos, a zona era habitada por indígenas que beneficiavam das propriedades das águas da lagoa de Epecuén. Por suas caraterísticas geográficas, ficando em uma bacia fechada, durante milhares de anos ali se acumularam minerais e sais, explicou à Sputnik Gastón Partarrieu, diretor do Museu Regional de Adolfo Alsina, o município onde está situada a vila abandonada.

Na década de 1870, começou a colonização da zona, com o avanço das tropas argentinas sobre os territórios habitados pelos povos indígenas. No início do século XX, chegou a ferrovia e com ela os turistas, que não se tardaram em disfrutar das suas águas famosas.

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Epecuén, a vila inundada

A fim de oferecer mais comodidade aos visitantes, em 1921 foi construída a vila de Epecuén.

Naquele tempo não havia muito conhecimento sobre o comportamento natural do sistema de lagoas do oeste da província de Buenos Aires, onde ficava a estação termal.

"Quando a vila nasceu, em 1921, estávamos em um ciclo de maiores chuvas, que havia começado em 1870. Quando a vila foi fundada, ninguém sabia até onde podia crescer a lagoa, mas sabiam que nos últimos 50 anos nunca havia passado esse nível. Então, a povoação foi criada à beira dessa linha", contou o diretor do museu regional.

Na década de 1930, começou um ciclo de seca e a lagoa recuou. Isso provocou um efeito negativo sobre as atividades da zona litorânea. A orla se tornou meio quilômetro mais longa e a lagoa ainda mais seca.

Em 1960, ao fator do clima se soma o fator político. Nesse momento, a Argentina entrava em uma fase de expansão dos projetos de infraestrutura, com uso de obras hidráulicas, e a indústria turística pediu ajuda para salvar as lagoas que estavam secando.

Logo foi construído um canal de 90 quilômetros, que transferia para estas lagoas água proveniente de ribeiros da bacia do rio Salado, assim como de ribeiros provenientes das serras. No entanto, para não afetar a salinidade, a Epecuén se manteve fechada.

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Em 1975, o canal foi inaugurado, mas no ano seguinte a ditadura militar mudou as prioridades, deixando de investir neste projeto. A água continuava correndo para as lagoas de forma descontrolada.

Ao mesmo tempo, começou um novo ciclo de chuvas, que provocaram a inundação de milhões de hectares na província entre 1977 e 1985. Por causa da precipitação e das águas subterrâneas, a lagoa de Epecuén começou a crescer de maneira natural.

Em 1985, as chuvas se multiplicaram, e todas as lagoas da zona se encheram. Epecuén, a mais baixa, começou a receber delas cada vez mais água. O vento forte aumentou ainda mais o nível das águas. Nesse momento, começou a catástrofe na vila.

"Aí começou a evacuação de toda a vila, que durou quatro ou cinco dias. Estava claro que a água ia crescendo mais e mais, pois estava chovendo muito. […] Foi declarado o abandono total da vila… Os setores mais baixos sobre a costa ficaram cobertos com dois metros de água", explicou o entrevistado.

O mesmo ameaçava uma outra povoação, por isso abriram as comportas dos canais para evitar que essa e outras vilas terminassem completamente tapadas. A água das lagoas superiores desembocou na Epecuén.

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Em 1992, outra crise hídrica piorou a situação. Naquela época a povoação fantasma estava coberta por sete metros de água, que já não era salgada, mas doce. Foram reforçadas as muralhas das povoações costeiras e aperfeiçoadas as canalizações para evitar outra catástrofe. A bacia fechada foi aberta e as águas desembocaram no oceano.

Passados 10 anos da última inundação, começou uma época de seca. Pouco a pouco, a vila abandonada foi surgindo da água. Em 2006, começaram a ser vistos os edifícios e um pouco depois a água se retirou completamente para revelar um panorama triste.

Entre os destroços, alguns travesseiros de camas, cobertores e colchões dão uma ideia do passado hoteleiro de Epecuén e do episódio que foi muito traumático" para a gente da zona.
A inundação também destruiu uma parte do cemitério local: as imagens de caixões flutuando foram transmitidas pela televisão nacional.

Apesar de tudo, hoje, o número da gente que vem tomar banhos é igual àqueles que visitam a vila abandonada. A publicidade do ciclista da RedBull veio transformar a vila em um lugar popular. Em janeiro, os habitantes da zona fizeram com que o município se tornasse conhecido por todo o mundo, quando umas 2.000 pessoas bateram o recorde do Guinness em número de pessoas nadando juntos simultaneamente.

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