Especialista: UE pode causar maior desastre de sua história ao enviar tropas para o Iraque

© AFP 2023 / SAFIN HAMEDInstrutor britânico em treinamento com combatentes curdos iraquianos nos arredores de Arbil em novembro de 2014
Instrutor britânico em treinamento com combatentes curdos iraquianos nos arredores de Arbil em novembro de 2014 - Sputnik Brasil
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A União Europeia informou recentemente que está considerando a possibilidade de enviar uma missão de segurança ao Iraque para ajudar na estabilização do país após a reconquista de Mossul. Embora os planos ainda estejam em estado embrionário, a simples hipótese já está sendo objeto de forte crítica e dúvida.

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Os ministros das Relações Exteriores do bloco realizaram uma discussão sobre o assunto no último dia 19, em Luxemburgo. A proposta inicial seria a de formar um contingente de militares de vários países para treinar as forças iraquianas, reestruturando os órgãos de combate ao terrorismo, o funcionamento da justiça e do Ministério do Interior e dando conselhos estratégicos de segurança ao governo.

Se colocada em prática, tal ação marcaria o primeiro grande teste para uma política externa independente da UE. Missões anteriores nesse estilo do bloco —como uma visita em 2006 ao Iraque para treinar juízes e policiais, amplamente considerada um fracasso — foram extremamente limitadas e, em geral, não militares. A União Europeia nunca instalou uma missão militar efetiva, combinada e exclusiva de seus membros em qualquer parte do mundo. Mas a ideia não é uma grande surpresa, dado o desejo declarado de sua alta representante para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, de que a organização tenha uma política de defesa comum e um papel militar reforçado no exterior.

Em Mossul, considerada sua capital no Iraque, o grupo terrorista Daesh se aproxima de uma grande derrota, enquanto também se encontra em situação complicada na Síria. Autoridades da Europa e dos Estados Unidos temem que, com a sua saída, forças tribais iniciem uma nova luta por controle de territórios antes ocupados pelos militantes, criando novas ondas de violência. 

"Não podemos nos dar ao luxo de permitir que um vácuo se desenvolva. Nós e outros estamos prontos para intervir. Apenas devemos decidir ainda como fazer isso", disse um diplomata da UE. 

O Serviço de Ação Externa do bloco deve apresentar propostas para o Iraque em breve, apesar do ceticismo de muitos em relação à viabilidade dos planos europeus. Entre os mais céticos está o analista Martin Jay, especialista em questões do Oriente Médio.

"A última vez que a UE enviou uma missão de paz para uma área em guerra foi em 2002, quando soldados franceses vestidos com braçadeiras da União Europeia foram observar milícias rebeldes lutando na fronteira do Chade. Eles foram enviados sob um mandato limitado, que proibia o envolvimento direto. Quando as tropas atingiam uma linha de frente e se deparavam com ações reais, elas simplesmente fugiam. É difícil imaginar como a UE poderia dar a essa missão um mandato real, dado que essa é provavelmente a área mais incendiária do Oriente Médio", disse Jay em entrevista à Sputnik. 

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Para o pesquisador, o fato de o bloco estar considerando esse caminho é, na verdade, uma jogada de relações públicas provocada pelo Brexit. Com a saída do Reino Unido, uma das maiores potências militares da organização, Bruxelas passa a buscar uma forma de demonstrar sua relevância na área de defesa e segurança, estudando inclusive a possibilidade de agir em terra com uma força combinada em território estrangeiro. 

"A resposta dos líderes de Bruxelas para uma crise na Europa é a de que a Europa precisa mais da UE. E o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse recentemente que o mundo precisa mais da UE. Esse seria o primeiro passo nesse projeto."

Martin Jay acredita que se essa empreitada militar conjunta dos Estados europeus realmente entrar em vigor no Iraque, ela terá como foco apenas a missão de manutenção da paz, e não uma função mais decisiva. Além disso, ele está certo de que isso não acontecerá antes de que Mossul esteja completamente liberada, uma vez que a instalação de soldados da UE na região enquanto ainda ocorrem combates poderia ser "o maior desastre da história da União Europeia". 

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