Em entrevista à Sputnik Brasil nesta segunda-feira, 3, González explicou que, embora o Brasil tenha assumido um papel de destaque muito grande durante os mandatos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, a presidenta Dilma Rousseff, mesmo antes de todos os problemas, já demonstrava uma nova tendência, por ter um perfil diferente dos seus antecessores.
"A presidente Dilma já tinha um perfil um pouco diferente. Embora a participação institucional do Brasil nos espaços internacionais tenha sido mantida, ela viajou muito menos, ela participou pessoalmente de menos atividades. No seu segundo mandato, na medida em que viveu seu um ano e pouco de mandato em crise permanente, ela praticamente abandonou o protagonismo na política externa. E, desde então, o Brasil tem tido um esvaziamento desses espaços", disse ele.
"Antes o [Michel] Temer era um presidente interino, hoje ele é o presidente que vai cumprir o resto do mandato, mas se sabe publicamente que existe uma ameaça de ele ser afastado ainda antes do final do mandato", afirmou, sublinhando que as sucessivas trocas no comando do Itamaraty ao longo dos últimos anos também revelaram uma falta de diretriz nas Relações Exteriores brasileiras.
No caso da Argentina, comenta o especialista, a substituição de Cristina Kirchner por Macri, através de uma eleição, foi vista com bons olhos pelos mercados estrangeiros, recolocando o país numa rota de interesse dos organismos financeiros internacionais, muito por conta dos esforços do novo presidente para agradar a certos grupos.
"Os próprios dirigentes de outros países utilizam sua agenda externa como forma de promoção. O Macri é um desses exemplos", destacou Gonzáles. "Mesmo ainda tendo algumas dificuldades na economia argentina, ele tenta projetar uma imagem de respeitabilidade externa, com uma ampla agenda de visitas, pra mostrar que ele é um presidente forte. O que ganharia hoje uma autoridade estrangeira visitando o Brasil?", indagou o professor.