Companhias suíças como a Crypto, Oerlikon-Buhrle e Mowag embarcaram para cá uma série de itens como baterias antiaéreas, sistema de criptografia, granadas e peças para blindados. Essas compras aumentaram depois que o então presidente americano Jimmy Carter rompeu o acordo militar que havia entre Estados Unidos e Brasil, suspendendo assim a venda de armamento e a assessoria militar dos americanos.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Nelson Düring, jornalista e editor do DefesaNet, uma das maiores referências no Brasil sobre indústria bélica, lembra que a Suíça tinha um sistema de canhões de defesa antiaérea de 35 milímetros que o Exército comprou, adquirindo cerca de 30 sistemas para formar três ou quatro grupos de defesa antiaérea que serviam para proteção das refinaria da Petrobras.
"Eles mencionam a Crypto como fornecedora de armamento, mas ela é fornecedora de equipamentos de criptografia para a Marinha e talvez até a Marinha tenha comprando para o Itamaraty. A Suíça sempre foi uma fornecedora de equipamento de alta tecnologia, e essas empresas desenvolveram equipamentos militares de ponta e venderam."
O especialista lembra que muitos países que vendem armamentos têm internamente alguns conflitos de ética, como Suíça e Suécia que podem vender seus equipamentos para um país cliente, que cumpre com todos os requisitos de confiabilidade, e que, em determinado intervalo de tempo, tenham alterado essa realidade em função de troca de governo. Por isso, During diz que há sempre um risco, na área de defesa, nesse tipo de transação, como acontece com frequência em países da África e do Oriente Médio, por exemplo. "De repente você não sabe nem onde o esquipamento está. Isso aconteceu muito com os sistemas de mísseis que geram um problema enorme para quem vendeu."
During lembra que a Suíça já foi um país importante em termos de tecnologia militar. Hoje ela tem repassado algumas empresas para controle alemão. Na própria Suíça, ela produziu carros de combate. As armas portáteis, o equipamento para o exército são produzidos na Suíça.
"A Glock, por exemplo, é uma empresa suíça. Eles procuram estar ativos no mercado de armamentos. Aquelas montanhas ajudam a preservar o terreno, mas eles têm uma força aérea um exército bastante efetivos, sabem que ser neutros não significa não terem forças armadas. Em alguns momentos patrulhas aéreas são feitas nas fronteira da França e da Itália", observa o especialista.
O editor do DefesaNet lembra que no mercado de armamentos é comum que o comprador assine um termo de "usuário final", pelo qual se compromete a ser o proprietário e se responsabilizar pela guarda do equipamento e não repassá-lo a terceiros. Esse repasse é uma penalidade bastante grave, independentemente ser país aliado ou não. During garante que todos os equipamentos citados pela reportagem do "Estadão"eram de fabricação suíça, não tendo havido repasse ao Brasil de armas fabricadas por outros países.
"São canhões antiaéreos da Oerlikon-Buhrle, que hoje estão desativados por que o Exército não sabe o que vai fazer: se vai modernizá-los ou desativá-los. Eles eram usados aqui em três grupos de artilharia antiaérea. Era uma questão mais estratégica (não ligada à ameaça terrorista), porque o Brasil não tinha um sistema de mísseis e a nossa força aérea tinha muita limitação. Mais ou menos nesse período, de 1975 a 1978, foram feitas várias compras na Inglaterra, na Suíça e nos Estados Unidos. Nesse período também houve um incentivo à indústria de defesa no Brasil, que teve um bom sucesso nos anos 80 com a Engesa, Embraer e a Avibrás, empresas que foram uma resposta a esse embargo americano", diz During, negando que tenha havido, à época, transferência de tecnologia nessas transações.