Ouvido pela Sputnik Brasil, o economista da CNC Fábio Bentes diz que, hoje, o turismo fluminense é atividade econômica mais afetada pelo aumento da violência. Segundo ele, além do aumento de custos para se tentar proteger da violência, há uma queda da receita com a fuga dos visitantes. O estudo mostra que alguns setores são mais afetados do que outros. O primeiro é o de hospedagem, mais dependente do turista, que sofre mais do que o de restaurantes e bares que também atende à população local, vindo em segundo lugar o de transportes, com a consequente escolha do turista por outros destinos.
O estudo da CNC mostra que a perda de R$ 320 milhões no turismo fluminense representa 42% do total de perda de faturamento global no estado. A análise também atribui a essa diminuição outros fatores como o elevado desemprego no país, a escassez de crédito e o aumento dos gastos dos brasileiros com viagens ao exterior. Dados do Banco Central revelam que nos cinco primeiros meses do ano, em comparação a igual período de 2016, os gastos com turismo doméstico diminuíram 2,6%, enquanto as despesas com viagens para o exterior aumentaram 41,2%.
"A gente procurou dividir esse efeito da crise sobre o setor de turismo levando em consideração também a realidade do dólar mais barato — ele caiu cerca de 10% em relação há um ano —, o que faz o turismo internacional um pouquinho mais barato para o brasileiro e um pouquinho mais caro para o turista estrangeiro. A gente tem também um problema de desemprego ainda alto. No momento em que o orçamento das famílias fica tão sacrificado pela escassez de trabalho, é natural que as pessoas cortem gastos com lazer", explica o economista.
O levantamento da CNC mostra ainda que nos quatro primeiros meses desse ano em comparação a igual período do ano passado houve um aumento de 6% no número de ocorrências policiais no estado. O estudo levou em consideração dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), que mostram que, de abril de 2016 a abril deste ano, as principais modalidades de crime, como roubos a bancos, a caixas eletrônicos e de bicicleta mais que dobraram (107,7%), enquanto od roubos em coletivos cresceram 77,6% e os de celulares, 73%. O documento da CNC revela que, para cada aumento de 10% na criminalidade, a receita bruta das empresas do setor de turismo recua, em média, 1,8%.
Fábio Bentes diz que esse quadro é a maior fonte de preocupação. Para ele, a crise na economia está passando, mas o aumento da violência não vai ser resolvido do dia para a noite. "Não é nenhum exagero se, no final do ano, a gente estiver falando numa perda de R$ 1 bilhão ou mais por conta desse efeito da violência."
O economista da CNC observa que, apesar de todas as dificuldades, o comércio do Rio tem se esforçado em buscar, junto à população e aos órgãos de segurança pública, soluções para minimizar a profunda crise econômica do estado que se reflete no desaparelhamento de vários serviços e mesmo na manutenção da frota das polícias. Ele cita, em especial, a coleta de uma série de produtos, como papel para impressora e até material de limpeza para as delegacias que carecem de praticamente tudo.
"O comércio e o setor de serviços dependem da circulação de pessoas nas ruas. Se as pessoas estão com medo de sair para consumir, o comércio acaba sentindo isso indiretamente e diretamente também com um dos crimes que mais aumentou nos últimos meses, os assaltos a estabelecimentos comerciais. Para o comércio esta já não é uma realidade nova. O que a gente não esperava é que o setor de serviços turísticos, uma característica do Rio de Janeiro, tivesse uma perda tão forte como essa que a gente mensurou", finaliza Bentes.