Como a China pode ajudar 389 milhões de africanos que vivem abaixo da linha da pobreza?

© AP Photo / Jerome DelayNesta foto de 25 de novembro de 2014, crianças são vistas brincando no porto de Conakry, Guiné. Muitas pessoas morreram no país por causa da malária, que, segundo dados oficiais, ceifou mais vidas do que o ebola
Nesta foto de 25 de novembro de 2014, crianças são vistas brincando no porto de Conakry, Guiné. Muitas pessoas morreram no país por causa da malária, que, segundo dados oficiais, ceifou mais vidas do que o ebola - Sputnik Brasil
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A expansão das influências econômica e política da China não passou despercebida em todo o mundo, sobretudo em tempos de um isolacionismo patrocinado pelo presidente estadounidense Donald Trump. Mais do que a potência prestes a assumir a liderança mundial, a China também causa preocupações quando se olha para países pobres e em desenvolvimento.

Não por acaso, uma revista publicada pelo jornal norte-americano New York Times recentemente fez a seguinte pergunta: “A China é a nova potência colonial do mundo?”. O questionamento considera que a influência de Pequim pode trazer danos comparáveis às relações coloniais que remontam séculos passados e deixam marcas indeléveis para sempre entre os colonizados.

Além do Sudeste Asiático, a China vem avançando sobre outras partes do mundo, como a América Latina – incluindo o Brasil, país com o qual Pequim fechou um acordo da ordem de R$ 20 bilhões há pouco tempo – e, principalmente, a África. A alta dos investimentos chineses em nações africanas é temerária? Ou há mais a celebrar do que criticar perante o atual cenário?

Para Hannah Ryder, ex-chefe de políticas e parcerias para o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas na China, a resposta correta não está em nenhum dos extremos, mas sim no meio do caminho no qual o país asiático pode ser um fio condutor para a diminuição da pobreza, em um continente que conta com 389 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza – mais da metade do contigente em situação de miséria no planeta.

“Enquanto a China não é um colonizador, os governos africanos e de outros países têm a responsabilidade de assegurar que suas relações com a China atinjam seus próprios interesses e objetivos de desenvolvimento. Dada a crescente pegada global da China, uma abordagem ‘ad hoc’ [para esta finalidade] não é mais apropriada”, escreveu Hannah, em artigo publicado pelo site Project Syndicate.

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Segundo ela, é um erro considerar a atual política chinesa para a África comparável aos regimes coloniais vividos no continente, estes capitaneados por potências europeias. A ex-funcionária da ONU relembrou a própria história familiar em seu país natal, o Quênia, para diminuir a noção de que as relações políticas e econômicas chinesas com países africanos na atualidade possa ser comparável ao passado.

Segundo Hannah, os chineses assumem riscos políticos com seus investimentos, preferem fazer negócios com países que já possuam relações com Pequim, e não evita se relacionar com países que priorizam a própria mão de obra para obras de infraestrutura – três pontos que distanciam a comparação colonial. Contudo, ela diz que nem tudo vai bem.

“Ainda há aproximadamente 389 milhões de africanos que vivem abaixo da linha de pobreza — mais da metade do total mundial. O engajamento da China na África pode ajudar a reduzir esse número, mas apenas se os países africanos trabalham estrategicamente para gerenciar suas relações com a China, protegendo seus próprios interesses, criando acordos mutuamente benéficos com o gigante asiático”, avaliou.

Hannah acredita também que “embora a China não seja um colonizador, seria um erro assumir que sua crescente pegada global é puramente benigna”. Assim, ela sugere que os países africanos tomem quatro caminhos fundamentais: ter um plano claro sobre tais parcerias com os chineses; ter atores bem posicionados para a interlocução entre os dois lados; negociações transparentes; e, finalmente, monitoramento dos resultados.

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