No mercado financeiro, as apostas são de que o ano feche com um avanço de 0,3% na economia, enquanto o governo mantém a projeção de 0,5%. Ao justificarem a projeção menor para o PIB no ano que vem, os técnicos do Fundo alegam que o aumento da incerteza política no país lança dúvidas sobre uma retomada mais consistente da economia, principalmente se a reforma da Previdência for adiada ou aprovada com várias concessões, o que pode comprometer o ajuste fiscal perseguido pelo governo, que seria obrigado a adotar ações adversas ao mercado financeiro, exigindo ações fiscais por um prazo mais longo.
No lado positivo, o relatório do FMI aponta a queda dos índices de inflação e mesmo a deflação apontada por alguns indicadores. Ainda segundo os técnicos, a decisão do governo de reduzir a meta de inflação para 4,25% em 2019 e 4% em 2020 pode deixar o Brasil em um patamar mais próximos ao dos países que trabalham com esse sistema de metas.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Mauro Rochlin, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que o anúncio de queda de 0,09% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em julho sobre junho teve um efeito de ducha de água fria sobre os economistas. O IBC-BR funciona como uma espécie de prévia do PIB divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O especialista lembra que o crescimento de 0,8% da indústria em maio, principalmente em bens de capital e bens de consumo duráveis, tinha animado o mercado.
"O quadro atual prejudica demais as decisões de investimento que, a meu ver, poderiam acontecer fortemente no setor de infraestrutura. Tem o setor de óleo e gás que ensaia alguma recuperação, tem chineses entrando no Comperj (polo petroquímico) aqui no Rio de Janeiro, previsão de um novo leilão para o pré-sal ainda esse ano. Quando bens de capital registram avanço, a gente conclui que no futuro teremos crescimento", diz o professor da FGV.
Na opinião de Rochlin, a revisão feita pelo FMI para a alta do PIB em 2018 foi feita mais em função do quadro político do que sobre os indicadores de produção e renda. Com relação aos temores de um adiamento ou mesmo uma desfiguração da reforma da Previdência, o especialista observa que os temores são justificados.
"Serão necessários mais recursos para cobrir o rombo, e com isso o governo vai ser obrigado a fazer um ajuste fiscal mais rigoroso, o que acaba significando retração mais forte da economia. Quando o governo economiza, isso é ruim para a economia, porque isso significa que o gasto do governo que ajudaria a turbinar a atividade de empresas não vai acontecer e com isso a atividade econômica vai se ressentir", explica Rochlin.