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Prefeitura de São Paulo impede distribuição de sopa na Cracolândia

© Rovena Rosa/EBC/FotosPúblicasGuarda Civil Metropolitana de São Paulo na Cracolândia, entre a Avenida Cleveland e rua Helvétia
Guarda Civil Metropolitana de São Paulo na Cracolândia, entre a Avenida Cleveland e rua Helvétia - Sputnik Brasil
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Depois de ser acusada de dar banho de água fria em moradores de Rua, na Praça da Sé, com termômetros marcando 12 graus, nesta quinta-feira (20) a Prefeitura de São Paulo foi denunciada de impedir a distribuição de sopa quente para moradores em situação de rua e dependentes químicos que estão na nova região da Cracolândia, no Centro de São Paulo.

A denúncia foi realizada pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, que tem dado acolhimento e assistência durante 20 anos de existência da Cracolândia, na cidade.

O Padre Júlio Lancellotti conversou com exclusividade com a Sputnik Brasil sobre o problema.

Segundo o padre, muitas organizações trabalham à noite na região, para oferecer ajuda e alimentos às pessoas em situação de rua. Um grupo de missionários, que estava distribuindo sopa quente na noite da quinta-feira, entrou em contato com Lancellotti, pedindo ajuda, pois a guarda estaria impedindo a distribuição do alimento. 

"Quando chegaram lá, a Guarda Civil Metropolitana, que é o corpo armado e militar da Prefeitura, disse que não era permitido distribuir a sopa. Só se fosse em um determinado lugar, autorizado por eles".

O padre divulgou o problema nas redes sociais e depois telefonou para Secretário Municipal de Segurança Urbana, Coronel José Roberto, que acabou orientando os guardas a liberar a distribuição da sopa.

Segundo Lancellotti, os guardas usam decretos de administrações anteriores como uma forma de pressão, para que os moradores de rua não recebam ajuda e recorram aos programas da Prefeitura.

Por outro lado, o Prefeito telefonou ao padre, após o incidente, e prometeu revogar a portaria, que impede a distribuição de água e de alimentos às pessoas em situação de rua e dependentes químicos.

Tratando o sintoma em vez da causa

Ao comentar a situação na Cracolândia, o padre afirmou que os governos, em diversas administrações seguidas, pecam em tratar o sintoma e não a causa do problema.

"Cada administração faz um programa. Substancialmente eles não mudam. Tanto que o fluxo está lá do mesmo jeito que sempre esteve. Mesmo com tudo que está se fazendo, com o cerco da Guarda e da Polícia Militar [à região da Cracolândia], como já se fez muitas vezes, não conseguem que as drogas cheguem no local. Se trata das consequências e não da causa do problema. A causa humana e existencial dessas pessoas", lamentou o Lancellotti.

É necessário devolver autonomia

Segundo ele, não haveria nenhuma "solução mágica". O crack seria uma consequência de problemas de outra ordem. Por outro lado, as pessoas mergulhadas no seu uso acabam sendo socialmente excluídas, não conseguindo conviver mesmo com as próprias famílias. Por isso é necessário devolver a autonomia às pessoas em situação de desespero.

© Júlio Lancellotti/Arquivo pessoalPadre Lancellotti ajuda pessoas em situação de rua em São Paulo
Padre Lancellotti ajuda pessoas em situação de rua em São Paulo - Sputnik Brasil
Padre Lancellotti ajuda pessoas em situação de rua em São Paulo

"A participação, a autonomia, a possibilidade de poder viver. Essas pessoas não querem somente receber a sopa que é levada na rua. Eles querem fazer o seu próprio alimento. Eles querem poder escolher a comida. Eles querem contato humano. Conversa", afirmou o interlocutor da Sputnik.

"Eles sempre dizem para gente — não dá a sopa e vai embora, senta e come com a gente, fica com a gente", explicou Lancelotti. Ou seja, as pessoas também querem acolher e querem uma vida com dignidade.

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É o que os grupos, alguns dos quais trabalham com o padre Lancellotti, propõem. Segundo ele, a cidade pode ser extremamente egoísta e extremamente generosa, ao mesmo tempo.

"Fiquei comovido de ver a quantidade de jovens pela rua, com sacolas, com agasalhos, indo ao encontro das pessoas. Isso é um sinal muito grande de esperança. De que há pessoas que não querem a exclusão e uma sociedade egoísta e fechada, mas uma sociedade que seja solidária, fraterna e com lugar para todos", concluiu.

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